sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pedra no Caminho

 
Há algum tempo atrás li algures uma lenda que rezava algo mais ou menos assim:
Havia um rei muito sábio que não se poupava a esforços para ensinar bons hábitos ao seu povo e para isso fazia com frequência coisas aparentemente estranhas.
-Nada de bom pode vir para uma nação, cujo o povo reclama e espera que os outros resolvam os seus problemas. As coisas boas acontecem a quem lida com os seus problemas – dizia ele.
Certa noite enquanto todos dormiam, ele colocou uma pedra enorme na estrada que passava pelo palácio. Depois escondeu-se atrás de uma cerca para ver o que acontecia.
Pela manhã, veio um agricultor na sua carroça carregada com sementes para entregar no palácio:
- Onde já se viu isto?! - disse contornando a pedra – Estes preguiçosos não retiraram esta pedra! - e prosseguiu o caminho, reclamando da inutilidade dos outros, sem contudo, ele próprio tocar na pedra.
De seguida, passou um soldado que cantando pela estrada, tropeçou na pedra e caiu.
- Bolas! - vociferou enquanto pontapeava a pedra e atirava terra para o ar, irado pela irresponsabilidade e insensatez de quem não tirava dali a pedra.
Todos os que por ali passavam reclamavam indignados pela presença da pedra no caminho.
Ao cair da noite, a filha do moleiro, cansada da sua jornada de trabalho, percorria a estrada do palácio. Ao ver a pedra estacou e disse:
- Está a anoitecer, podia ter caído aqui! E se a pedra amanhã ainda aqui estiver ainda posso cair ou pode alguém também cair e magoar-se. Vou tirar esta pedra daqui!
Tentou arrastar a pedra, mas era tão pesada...Então empurrou, empurrou e empurrou e ainda que aos bocadinhos de cada vez e levando bastante tempo conseguiu dali retirar a pedra. Eis que então, no lugar onde a pedra estava descobriu para sua surpresa, uma caixa. Levantou a tampa e leu: Esta caixa pertence a quem retirar a pedra e olhando para o seu interior viu que se encontrava repleta de ouro.
Quantas vezes nos deparamos com pedras no nosso caminho e quantas vezes as evitamos, contornamos, reclamamos por existirem, por alguém as ter lá posto e por nada acontecer para que deixem de lá estar. Contudo, esquecemos-nos ou não queremos ver que temos também responsabilidade na sua permanência no nosso caminho. Muitas vezes o medo de retirarmos as pedras do nosso caminho mantem-nos prisioneiros de situações que não nos satisfazem, ao fim ao cabo, não sabemos o que está para lá da pedra, não sabemos o que vai ficar se a retirarmos e mantemo-nos então "confortavelmente" instalados no desconforto, na incerteza, na dor, no sofrimento...Outras vezes, sentimo-nos incapazes e fracos para as removermos sozinhos ou até achamos que se elas ali estão, nada mais há a fazer do que parar de caminhar.
A terapia constitui-se como forte aliado para olharmos para as pedras que nos incomodam e nos dar uma nova visão tanto delas, como do desconhecido que está para além e no lugar delas. A terapia ajuda a encontramos dentro de nós " a filha do moleiro".
Elisabete Gomes


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