segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Sexualidade e (In)Satisfação Conjugal - Dois lados da mesma realidade?"





"Habitualmente os casais são confrontados por um conjunto de questões nesta área, muitas vezes condicionados pelas crenças que foram interiorizando ao longo do seu percurso de vida, mas também por um conjunto de informação que é transmitida erroneamente através de mitos e tabus associados a esta temática, bem como pelos significados que são valorizados pela nossa sociedade. Existe uma influência sócio-cultural nesta área, o que condiciona aquilo que o casal espera um do outro. Esta situação pode acabar por afetar o casal, fazendo-o viver a sexualidade com alguma tensão. É importante ter em conta que cada casal deve construir as suas próprias regras neste campo: não existe o certo ou o errado desde que os dois elementos estejam satisfeitos e confortáveis na prática sexual, podendo esta ser divergente da de outros casais.

A Sexualidade assume um papel essencial nas relações conjugais, sendo umas das componentes com grande impacto no bem-estar do casal. 

Considera-se que a satisfação sexual está estritamente relacionada com a satisfação geral na relação, sendo que os factores que condicionam a insatisfação sexual são divergentes para ambos os sexos. 
O sexo feminino, no âmbito da sexualidade, valoriza aspetos como o amor, afeição e carinho, para que a relação sexual seja satisfatória. Enquanto, que para o sexo masculino, a frequência e a variedade de atividades sexuais são habitualmente os fatores mais importantes. Estes elementos podem provocar conflitos entre o casal por existirem necessidades diferentes para os dois e divergentes formas de expressão das mesmas. 
Assim é necessário que sejam comunicados e partilhados pelo casal, de modo a que possam fazer negociações, para que ambos se sintam preenchidos e satisfeitos nesta área. 

É importante ter em conta que a sexualidade no casal não é desprovida da componente afetiva, sendo que aspetos que provocam desagrado na relação podem provocar o desencantamento e, consequentemente, o afastamento de um dos elementos, ficando comprometida a intimidade do casal. 

A sexualidade deve ser encarada como um elemento fundamental de partilha e intimidade, onde se conjugam os afetos, as fantasias, as aspirações, compromisso e investimento, sendo a junção destes fatores uma importante fonte de manutenção do relacionamento, produzindo um cocktail de harmonia e satisfação conjugal.

Homens e mulheres funcionam de forma diferente, valorizando diferentes aspectos da sexualidade,  o que não tem que ser necessariamente um obstáculo na relação. A forma como os homens sentem e expressam amor pelas suas companheiras está estritamente interligado ao relacionamento sexual. Durante o ato sexual ele está mais disponível para dar e receber amor. Assim, se perante a sua iniciativa de iniciar a relação sexual a mulher recuar, geram-se sentimentos de rejeição, sendo este um dos grandes desafios para relação, isto é, gerir os tempos de cada um e os significados que são atribuídos por ambos no que se refere a essa situação. Quando a parceira vai continuamente recusando as investidas do companheiro, sem qualquer tipo de explicação, pode surgir, devido aos pensamentos e sentimentos não expressos, afastamento da parte do homem e até mesmo perda de desejo em relação à mesma, pois sempre que é recusada a atividade sexual, o homem tem que suprimir o seu desejo. Se esta situação acontecer repetidamente, o desejo vai sendo suprimido automaticamente, gerando um grande desgaste para o mesmo. O mesmo acontece com a mulher, quando sente que as suas necessidades de afeto, de atenção não são respeitadas vai-se progressivamente afastando, ficando menos receptiva ao ato sexual. Mas como este aspeto não é partilhado com o companheiro vão-se gerando mágoas e ressentimentos, ficando comprometido o relacionamento, mesmo nas outras áreas. Neste caso, quando não há o compromisso de comunicar com o outro as suas necessidades ou quando não há disponibilidade para entender aquilo que o outro precisa, pode-se estar a criar espaço para que outros os encantem, podendo surgir as relações extraconjugais como fonte de satisfação dos desejos sexuais que são reprimidos ou não satisfeitos na relação actual, mesmo que possa estar preservado o sentimento pelo outro. Estas situações podem mesmo gerar rupturas conjugais, pois um dos elementos do casal pode sentir que as suas necessidades não são consideradas importantes pelo outro. Para além disso, a existência de outros problemas conjugais, ao não serem resolvidos afeta a vida sexual do casal. Assim, é necessário existir um investimento das duas partes para melhorar a relação sexual, não descurando as necessidades do outro, bem como tentar perceber e resolver os outros problemas ou dificuldades que estão a ter repercussões no bem-estar do casal.
As disfunções sexuais podem surgir associadas à própria disfuncionalidade da relação, originando ou reforçando um problema sexual existente. Quando surge um destes problemas é necessário procurar ajuda médica, para perceber se existe uma causa biológica, sendo necessário o tratamento medicamentoso, mas também analisar se a disfunção tem uma causa psicológica ou se é provocada pelo stress, cansaço, estilo de vida, entre outros. 

A Terapia de Casal pode permitir melhorar a comunicação do casal, ultrapassando grande parte dos bloqueios que estão associados à atividade sexual, facilitando a construção e a definição da sua sexualidade, aumentando a satisfação e, consequentemente, potenciando uma maior aproximação do mesmo. Para além disso, com o evoluir da relação, o desejo sexual pode ir diminuindo, contaminado pela rotina do casal, pelo nascimento dos filhos e pelo rol de exigências que vão surgindo na vida de cada um, sendo por isso importante que o casal continue a investir na relação e que reconquiste a atração. 
A Terapia de Casal pode facilitar este processo de descoberta de si próprio e do outro, permitindo derrubar o muro do silêncio e do ressentimento que se pode ir construindo entre os elementos do casal. "

 Sónia Ferreira,  Psicóloga Clínica e Terapeuta de Casal


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

“Parabéns a você, nesta data querida…”, enquanto cantava os parabéns numa festa de aniversário, dei por mim a pensar na importância de estar ali, de partilhar esta celebração com quem me rodeava e no significado que esta celebração, como aliás tantas outras têm para nós enquanto indivíduos, família e sociedade.
Os aniversários, os casamentos, os batizados, as comunhões, o Natal, a Páscoa, são algumas das celebrações que vivenciamos nas nossas vidas. Destacam e ressaltam acontecimentos positivos, promovem a união e sentimento de pertença de quem neles se integra e como tal são rituais estruturantes e que contribuem para o nosso desenvolvimento e bem estar.
Mas, serão só estes os rituais a destacar nas nossas vidas? Que importância têm os rituais?

“Os rituais, segundo Imber-Black & Roberts (1992), são ritos simbólicos, que auxiliam os indivíduos a fazer um trabalho de relacionamento, mudança, cura, crença e celebração. Partindo dessa estruturação, podemos dizer que os rituais familiares são actividades sociais simbólicas, repetitivas, altamente valorizadas, as quais transmitem os valores duradouros, as atitudes e os objetivos da família.
A maioria dos pais tem agendas sobrecarregadas e pouco tempo disponível para engajar-se em rituais com os filhos. Almoçar, jantar, tomar o café da manhã, ler uma história ao ir para a cama, enfim, situações cotidianas, altamente ritualizadas em épocas não muito antigas, não existem mais. Na maioria das famílias, os pais não estão mais disponíveis no horário de refeições. Quando chegam em casa, os filhos já foram dormir.
O que os rituais trazem de tão importante, além do convívio?
Os rituais são altamente simbólicos, não importa se parecem tão comuns, como escovar os dentes. O valor do ritual está justamente na sua inserção em um contexto simbólico, isto é, algo que tenha um significado muito mais profundo do que o simplesmente objetivo e observável. Os rituais familiares são tão privados a cada grupo familiar porque possuem significados diferentes, dependendo dos contextos diversificados das pessoas que os utilizam.
Existem vários tipos de rituais:
a) Rituais de celebração: homenageiam situações que foram bem-sucedidas ou simplesmente expressam amor e carinho. Eles comemoram o que é positivo e permitem uma conexão dos indivíduos com um senso de humanidade através do tempo, favorecendo as lembranças felizes. Rituais desse tipo são os aniversários, nascimentos, casamentos, promoções, aquisições pessoais significativas etc.
b) Rituais de libertação: rituais que permitem desvencilhar os indivíduos de emoções dolorosas, favorecendo um senso de proximidade e de compartilhar. Rituais de libertação podem ser utilizados para perdoar os outros, reconciliar diferenças, lidar com luto e recobrar-se de eventos traumáticos.
c) Rituais de transformação: importantes quando os indivíduos mudam para fases diferentes de vida, auxiliando a terminar situações e iniciar novas. Rituais desse tipo estão presentes em sociedades que celebram a passagem da adolescência para a idade adulta.
Quanto às suas funções dentro da família, em primeiro lugar, os rituais permitem estabelecer um senso de estabilidade. Todas as famílias experimentam situações de crise ou estresse, e os rituais têm a capacidade de prover as famílias com estabilidade durante esses períodos.
Os rituais também trazem uma identidade familiar, pois são ocasiões em que os membros da família transmitem valores familiares e crenças, reforçam a herança familiar e reconhecem mudanças na família, além de criar sentimentos de pertencer ao grupo.
Além disso, permitem a socialização: os rituais familiares são experiências de socialização
entre os membros da família, para que as famílias possam transmitir informações culturais e normativas, assim como valores e crenças através das gerações. Por exemplo,rituais lingüísticos, como ensinar a criança a dizer “por favor” e “obrigado”.
Os rituais familiares são estabilizadores da família e, embora haja pouca evidência de que exista influência dos rituais sobre o desenvolvimento, há suficientes provas de que as rotinas diárias e os rituais estão relacionados com o funcionamento psicossocial.
As famílias apresentam vários graus de ritualização e eles se modificam muito quanto ao simbolismo, emoção e significado afetivo relacionados.
É essencial que as famílias mantenham seus rituais através do tempo, mas não significa que esses tenham de permanecer os mesmos. Aqueles rituais que falham em adaptar-se às necessidades familiares perdem o sentido e tornam-se vazios. Quando isso ocorre,os rituais perdem seu simbolismo, e os membros da família celebram eventos com um senso de “obrigação”.
Assim, os rituais são eventos dinâmicos, que devem responder às necessidades de
mudança da família, para que perdurem no tempo.”
                                                                              Geraldo A. Fiamenghi Rituais familiares: alternativas para a reunião das famílias


Elisabete Gomes

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Alienação Parental


Hoje deixamos aqui o link do vídeo promocional do documentário Indizível - A alienação Parental em Portugal. Pretendemos assim alertar e sensibilizar para o tema.


Tal como se explica no texto do vídeo, alertamos para o facto de todos os testemunhos serem de pais, sexo masculino, o que reflete a opção de quem fez o documentário, pois a alienação parental pode ser perpetuada por mães, pais, avós ou outros familiares.

http://vimeo.com/12489169

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

FÉRIAS

“Sempre me fascinou ver como as pessoas vão a pouco e pouco encarando de forma diferente as férias. Desde logo quase todos passamos a só gozar as grandes, mas de tal forma encolhidas e isoladas que o adjectivo deixa de se justificar, são as férias e ponto final. Se a duração é menor, a possibilidade de escolha torna-se quase nula. Os estudos dos garotos ditam a sua lei e empurram-nos inexoravelmente para julho ou agosto (…).
E depois existe o subsídio de férias já destinado, a necessidade de articular as férias de ambos os pais, o problema de como ficam os avós. (…) Recompondo-nos física e mentalmente após um ano de trabalho, permitirão cumprir um sonho adiado há onze meses – a família estar em família.
A profissão ensinou-me a ser comedido. No princípio do Verão ouço com frequência discursos de esperança, “talvez nas férias…”Aconteça o quê? Um casamento fracassado se recomponha, o silêncio com os miúdos dê lugar a conversas fáceis, o futuro não se perfile igual ao presente, ambos tão distantes do que o passado prometia. E às vezes os pedidos são atendidos, as pessoas regressam reconciliadas com o mundo em geral e o seu nicho ecológico em particular (…). Às vezes…porque também surgem outras surpreendidas, não só os problemas não se resolveram como até pioraram.
As férias colocam-nas em situações que amiúde foram evitadas - consciente ou inconscientemente – ao longo do ano. É verdade que a vida é dura e apressada, mas por vezes os silêncios, as ausências, os pseudodiálogos através da novela, da prestação da casa e das notas dos miúdos reflectem uma distância entre as pessoas que surge de dentro para fora e não no sentido inverso. Nesses casos as férias tornam-se angustiantes, os outros ali tão perto, 24 horas por dia, disponíveis, oficialmente o vento está de feição e no entanto o casal ou toda a família permanecem incapazes de evitar os baixios; encalham.  
Mas sempre deixo uma pista, tão simples que aceitarei de bom grado o rótulo de discípulo de La Palisse: as férias agradáveis “preparam-se” ao longo do ano.”

Júlio Machado Vaz

“Conversas no Papel”   

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Contar histórias ...

        
             Bateram-me no carro! Ficou todo partido! Já viste o meu azar! Tudo me corre mal na vida! Bolas! Cortam-me no ordenado e exigem cada vez mais; chego a casa e lá vem a Maria me chatear, os meus filhos sempre a discutir por tudo e agora mais esta! Estou farto! – contava o João irado ao Manel.
- Olha que sorte João! Se te bateram no carro, o seguro paga e ainda ficas com um carrinho novinho em folha! – retorquiu o Manel.
Ao entrar em casa, João já ouvia os gritos dos dois filhos em luta pelo PC, a Maria berrava ainda mais alto dizendo, “sempre a mesma coisa e o vosso pai nada de aparecer para não variar!”. Por um segundo, João sentiu a irritação invadi-lo e quando estava prestes a gritar “mas que raio se passa desta vez aqui?!” estacou! Respirou profundamente e decidiu chamar a família com a voz mais calma que conseguiu.
- Hoje bateram-me no carro, mas deram-me um carro novinho! E que me dizem a irmos dar um passeio nele? – propôs
Os olhares inicialmente estupefactos de todos deram lugar a sorrisos animados dos filhos que rapidamente anuíram e a uma Maria que, ainda surpresa, pegava com um ar ligeiramente divertido no seu casaco!
Desde sempre e de diferentes formas, o ser humano ouviu e contou histórias. Vivemos tempos, no entanto, em que é preciso restaurar a generosidade do ouvir e ser ouvido, do acolher e do oferecer o bálsamo das histórias. Afinal, conhecer personagens que falem à nossa alma, que nos curem, ou que enfrentem desafios para, no final, serem felizes para sempre, é buscar a construção de um mundo mais leve. A arte de contar histórias é uma viagem que nos transforma, que nos coloca como contadores e ouvintes, como narradores e protagonistas. Por vezes o nosso livro da vida, retrata um mundo pesado onde as personagens são sofredoras nas suas lutas contra as adversidades e nós como qualquer autor saturado da sua narrativa, bloqueámos, não conseguimos escrever novas páginas…páginas diferentes. Damos por nós tentando escrever mais parágrafos, mas ora não conseguimos ou  são quase iguais aos anteriores…
         Qual bloqueio de escritor, ficamos frustrados, perdidos e ansiosos…afinal a “Editora Vida” tem os seus timings e sentimos que o relógio avança e que não continuamos o livro de forma diferente, sentimos que não estamos no caminho para o final desejado.
        Contudo, há que lembrar: somos os autores da nossa história e como tal, a qualquer altura podemos reescrever a nossa história, podemos olhar para as páginas escritas e mudar a sua pontuação, podemos criar novas personagens que ajudem o protagonista ao final desejado, ou fazê-lo encontrar poderes ocultos dentro de si, podemos mudar a nossa narrativa!
        Qual criança nos contos de encantar, temos que acreditar! Acreditar na nossa capacidade de criar, inovar, de olhar de outro ângulo para as situações que se nos apresentam, na nossa capacidade lutar e nos finais que ainda que com entraves, são felizes para nós.
Elisabete Gomes
 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Procura um Amante!

Procura um Amante!

“Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de o ter. Também há aquelas que não o têm ou as que o tiveram e o perderam…são geralmente estas últimas as que aparecem no consultório a queixarem-se que estão tristes ou que sofrem outros sintomas como insónia, pessimismo, falta de vontade, crises de choro…
Descrevem as suas vidas de forma monótona, sempre com as mesmas rotinas, que trabalham sem prazer somente para receber o ordenado ao final do mês e que não sabem como ocupar o seu tempo livre…enfim sentem-se desesperadas! Acabam mesmo por recorrer a médicos, psiquiatras, psicólogos e, em situações de maior angústia, bruxas e videntes…chegam mesmo a tomar medicação, muitas vezes desajustada à sua sintomatologia, recebendo como prémio de consolação o rótulo de “Depressão”.
Pois bem, o que estas pessoas precisam (e todos nós) é de um Amante! Passo a explicar: um Amante é o que nos apaixona! O que ocupa o nosso pensamento antes de dormir e que, também, às vezes não nos deixa dormir. O Amante é aquele que nos confere sentido e motivação à vida.
 Às vezes encontramos o nosso Amante no nosso companheiro ou noutras pessoas significativas. Também podemos encontrar na literatura, na música, no desporto, na amizade, na comida, no prazer em fazer o nosso hobby…enfim, um Amante é “alguém” ou “algo” que nos põe “a namorar com a vida” e que nos afasta do triste destino de “durar”.
O que significa “Durar”? Durar é ter medo de viver. É viver a vida dos outros, é deixar-se levar pela pressão, é deambular pelos consultórios médicos, é olhar com decepção ao espelho a nova ruga que nos apareceu, é preocupar-nos com o frio, a chuva, a humidade, o calor. “Durar” é adiar a possibilidade de desfrutar o momento no aqui e no agora, angustiando por algo que gostaríamos de ter ou de ser…
Por favor, procura um Amante, sê o Amante e protagonista da tua vida…pensa que o trágico não é morrer, pois a morte tem boa memória e nunca se esquece de nada…
O trágico é não animar-se a viver…sem mais dúvidas procura um Amante!
Para estar contente, activo e sentir-se feliz há que estar noivo com a vida.”
  
Adaptado de Jorge Bucay “Hay que tener un amante”







segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Os avós e o divórcio


“O comportamento dos avós perante o divórcio varia muito. Umas vezes distanciam-se por completo do conflito e, mesmo em relação aos netos, adoptam uma atitude de afastamento. É provável que as emoções desencadeadas pela ruptura sejam de difícil manejo, ou que a opção de não tomar partido seja usada para não agravar divergências. Os netos compreendem mal a distância, porque a presença dos avós oferece alguma estabilidade que os pode tranquilizar, num momento em que sentem a iminência da saída de casa de um dos progenitores. Noutros casos, o comportamento é diferente: os avós tornam-se uma espécie de guardas dos netos, vigiando e criticando os pais em ruptura, com o argumento de que se torna crucial defender as crianças dos conflitos.“

A razão dos avós, Daniel Sampaio, 2008


Acrescentaria ainda as situações em que os avós aliam-se a um dos progenitores, normalmente o próprio filho, contra o outro progenitor. O perigo ocorre quando estes avós envolvem os netos no conflito entre os pais, conflito este que agora passa a ser familiar. Ter uma criança que convive com avós que falam mal do progenitor com quem não vive, que impossibilitam ou dificultam os contactos do neto com esse progenitor, é tão grave como ter um progenitor a assumir este papel. Envolver os netos nesta guerra implica claramente uma perturbação no seu bem-estar emocional.

Por outro lado, existem divórcios em que um dos progenitores impede o contato do filho com os avós, normalmente os pais do outro progenitor, situação que também pode afetar negativamente as crianças, sobretudo as que até então conviviam frequentemente com os referidos avós. Neste âmbito tem sido muito discutida a possibilidade de se criar um direito de visitas para os avós, havendo já alterações legislativas noutros países, como o Brasil, que consagram este direito. Na legislação portuguesa existe um artigo que defende o convívio com irmãos e ascendentes (art. 1887-A, Código Civil), onde se podem incluir os avós. Em Portugal, este tem sido um problema cada vez mais recorrente, existindo já decisões judiciais defendem a importância dos convívios entre avós e netos, caso não haja nenhum impedimento justificativo.

Os avós são elementos essenciais na vida familiar das crianças e numa situação de divórcio devem mostrar-se disponíveis e manter-se o mais neutros possíveis, sobretudo no que diz respeito aos netos.

                Carolina Teves

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Onde está a minha voz?!



“Sinto-me deprimida(...), sinto-me sem voz!” - disse ela em sessão.
Dei por mim dias depois a refletir sobre a importância da Voz!
Voz, essa imensa capacidade que o ser humano tem de emitir sons que lhe permitem falar, rir, cantar, chorar, gritar... permite-nos comunicar e como tal é um instrumento fundamental nas relações humanas. Porém, mais do que permitir que a linguagem esteja presente e se criem diálogos e como tal interações com outros, a nossa voz expressa os nossos pensamentos, sentimentos e emoções.  
Na azáfama do dia-a-dia e com as múltiplas exigências do quotidiano moderno, cada vez mais temos dificuldade em ouvir a nossa voz! Não aquela que produz sons através das cordas vocais, mas aquela que condiciona a nossa forma de estar, sentir e agir. Quando perdemos a capacidade de nos escutar, de escutar o nosso corpo, as nossas sensações mais imediatas e viscerais, a linguagem inarticulada do “eu”, quando acumulamos vivências sem as integrar em nós, deixámo-nos invadir pelas tensões, pelas preocupações, pelo cansaço, por emoções reprimidas, sentimo-nos assoberbados, ansiosos, deprimidos, perdidos e debilitamos a nossa capacidade de lidar e enfrentar as situações desafiantes da vida. Frequentemente paralisamos e rigidificamos em posições que promovem a manutenção deste nosso mal-estar e a não resolução das crises ou situações problemáticas que vivenciamos. Muitas vezes, a voz perde-se no mar de vozes externas que ao longo da vida nos marcaram ou marcam e que persistem dentro de nós, condicionando ainda que de forma inconsciente o que fazemos e como nos sentimos, por vezes até nos maltratando. Na maior parte das vezes nem nos damos conta que não estamos a ouvir a nossa Voz, mas simplesmente constatamos que não estamos bem e que não estamos a conseguir alterar este nosso estado.
Reencontrar a nossa Voz interior é pois essencial para o nosso bem-estar, há que amplificar as nossas ressonâncias internas, há que “dar voz à nossa Voz”, quer essa voz se manifeste verbal ou não verbalmente, o importante é que sejamos pelo menos capazes de dar conta da sua existência.
“Dar conta da sua voz, dar voz à sua Voz” - pensei eu – “ estamos aqui para isto! As múltiplas facetas da terapia!”.


                                                                                                                                 Elisabete Gomes

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A importância dos Avós


Nos tempos em que vivemos, um casal que tenha filhos, que ambos os pais exerçam actividade profissional fora de casa e com as dificuldades económicas com que nos deparamos, recorrer aos avós para ficar com os netos é uma solução cada vez mais procurada pelos pais de hoje. A importância dos avós não deve ser descurada, não só pela ajuda que fornecem, mas também pela transmissão transgeracional da sua história, dos seus valores e da educação que deram aos filhos, que acaba por influenciar o crescimento e educação dos netos e das gerações seguintes.
Aqui fica um excerto do livro “a razão dos avós” de Daniel Sampaio, que aborda este tema.
“Em regra, os pais planeiam com cuidado a ocasião para ter filhos, decisão que hoje adiam cada vez mais. Em muitos casais, os trinta anos são a idade preferida para ter o primeiro filho e alguns consideram natural que eles nasçam até aos quarenta. Os avós, pelo seu lado, vivem a possibilidade de ter um neto de uma forma imaginária: não têm, neste e em muitos outros aspectos, capacidade para decidir, por isso guardam com maior ou menor serenidade a oferta de um neto que os filhos lhe poderão proporcionar. Pode ser uma expectativa silenciosa, ou um desejo confidenciado de forma mais ou menos aberta. Para alguns, de boa saúde e activos profissionalmente, às vezes com funções de chefia de acordo com os seus cinquenta anos, é uma ideia ténue, que surge em sonhos ou é apenas aflorada em conversas com amigos: nesses casos, é uma possibilidade que se deseja, mas que não se quer apressar.
O anúncio de que se vai ser avô introduz um novo ciclo familiar. Começa por ser antecipado, porque quase todos temos, em maior ou menor grau, um certo desejo de que a família não acabe. “
(…)
“Espero demonstrar com este livro que, ao contrário da voz corrente, os avós são os grandes educadores da actualidade. Presentes em muitos momentos decisivos da vida das crianças ou adolescentes, desempenham um importante papel de ajuda aos pais, mas são também os reservatórios da família, que asseguram a continuidade da história da família ao longo das gerações. Sempre que descuramos a sua voz, arriscamo-nos a não conseguir transformações significativas.
No meio da actual discussão sobre a parentalidade, essa competência para ser pai ou mãe que tanto mobiliza o debate educativo, os avós são os grande esquecidos. Apresentados como reformados, ultrapassados ou doentes, são referidos como seres indispensáveis para a família, ou mostrados como alguém que deseduca, porque satisfaz todas as vontades dos netos, enchendo-os de perigosas gratificações. E, no entanto, os pais cada vez recorrem mais aos avós, quer como suporte afectivo, quer como ajuda financeira em muitas situações do quotidiano familiar: são os avós que auxiliam para a compra da casa, tomam conta das crianças para os pais saírem ou funcionam como apaziguadores em muitas crises familiares, sobretudo na adolescência, como veremos mais adiante. E que dizer do verdadeiro gosto de muitos netos, que trocam saídas com os amigos por tardes a conversas com os avós, para grande surpresa dos pais?"

                                                                                                   A razão dos avós,  Daniel Sampaio, 2008


sexta-feira, 28 de junho de 2013

Masturbação feminina: prazer e saúde


A masturbação, por incrível que pareça, ainda é tabu para muita gente. Se colocarmos as palavras “masturbação” e “pecado” juntas no Google encontraremos 360.000 referências. Não vi todas, é claro, mas a maioria das primeiras afirma que se trata de um pecado terrível. Também chequei aleatoriamente diversas páginas adiante e, da mesma forma, a maioria afirma tratar-se de um pecado. Mas se acrescentarmos a palavra “feminina”, algo surpreendente acontece. As primeiras referências são afirmações de que não é pecado se masturbar.

Eu imagino que a maioria das pessoas não acha mais que se trata de um pecado. Mas é interessante que muitos médicos e cientistas afirmam que, na verdade, esta prática é muito benéfica para a saúde, tanto do corpo quanto da mente. Encontrei uma página na web (women to women) que é bastante esclarecedora sobre o assunto, e que traz dez boas razões para a gente se masturbar (além, é claro, do prazer em si):

1) Masturbação ajuda a prevenir infecções do colo do útero e ajuda a aliviar as infecções do trato urinário. Embora seja do conhecimento geral que a masturbação regular pode reduzir o risco de câncer de próstata nos homens, os estudos estão mostrando que a masturbação feminina também pode fornecer proteção contra infecções do colo do útero, porque quando as mulheres se masturbam, o orgasmo abre o colo do útero.
 
2) Em seu livro “Sexo: Uma História Natural”, Joann Ellison Rodgers descreve como o processo de masturbação estica e puxa o muco no colo do útero, permitindo um aumento da acidez do líquido cervical. Isso aumenta bactérias “amigáveis” e permite uma maior fluidez na passagem do colo do útero na vagina. Quando o  fluido “velho” se move a partir do colo aberto, não só lubrifica a vagina, mas também esvazia organismos hostis que podem causar infecções.

3) Muitas mulheres relatam o desejo de masturbar-se quando sentem que estão com infecções urinárias, e por uma boa razão: masturbação ajuda a aliviar a dor e libera as bactérias antigas do colo do útero. É a maneira do corpo de colocar as bactérias para fora.

4) A masturbação é associado com a saúde cardiovascular e menor risco de diabetes tipo-2. Em uma série de estudos, as mulheres que tiveram orgasmos com maior freqüência e sentem mais satisfação com o sexo – se com um parceiro ou não – mostraram ter maior resistência à doença arterial coronariana (DAC) e diabetes tipo-2.

5) Masturbação pode ajudar a combater a insônia, naturalmente, através da liberação hormonal e da tensão. Muitas mulheres se masturbam como um meio para relaxar após um dia agitado ou para adormecer à noite, mas muitas vezes elas não sabem que há uma razão hormonal envolvida. A dopamina aumenta durante a antecipação de um clímax sexual. Após o clímax, os hormônios calmantes oxitocina e endorfinas são liberados, fazendo-nos sentir um calor agradável que nos ajuda a dormir.

6) O orgasmo aumenta a força do assoalho pélvico. Há muitos benefícios de ter um assoalho pélvico saudável. Durante o orgasmo, o assoalho pélvico recebe um verdadeiro treino. O clitóris se avoluma com os picos de aumento da pressão arterial. Tônus muscular, freqüência cardíaca, respiração aumentam. O útero sobe para fora do assoalho pélvico, aumentando a tensão do músculo pélvico. Isso fortalece toda a região, bem como a sua satisfação sexual.

7) Melhora o nosso humor. Masturbação ajuda a aliviar sentimentos depressivos. Como nós ficamos estimuladas, os níveis hormonais de dopamina e adrenalina sobem em nossos corpos. Ambos os hormônios são impulsionadores do humor. Muitos estudos mostram que mulheres que relatam satisfação com sua vida sexual têm uma melhor qualidade de vida em geral.

8 ) Alivia o stress. Em seu livro “For Yourself”, a terapeuta sexual Lonnie Barbach explica que a masturbação pode ajudar a aliviar o estresse emocional, tendo tempo para nós mesmos, em meio às demandas do lar, família e trabalho.

9) Fortalece nossa relação com nós mesmas. Quando sabemos nutrir-nos de amor nos níveis emocional e físico, ganhamos confiança e crescemos através da auto-consciência. Ser capaz de reconhecer, articular e experimentar o que traz prazer é um passo poderoso em direção a auto-realização.

10) Fortalece a relação sexual com o parceiro. Muitos casais têm diferentes ritmos  e necessidades sexuais. A masturbação é uma forma de satisfazer as necessidades pessoais não atingidas pelo companheiro.  Testemunhar um parceiro masturbar-se pode nos ensinar o que eles gostam. Também pode abrir as linhas de comunicação entre parceiros que de outra forma poderiam supor que a “rotina” ainda está funcionando.

Texto: 
por calcinhasnarede http://calcinhasnarede.wordpress.com

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fadiga do Psicoterapeuta

Muitas vezes amigos e conhecidos meus, leigos na temática das psicoterapias, perguntam-me se não levo os problemas dos meus pacientes para casa. De algum modo parecem pensar que nós, psicoterapeutas, saímos preocupados do consultório e mal podemos dormir com o peso dos problemas alheios.
Sempre respondi tranquilamente dizendo que não é exactamente assim, pois para que alguém seja terapeuta exige-se uma formação rigorosa que habilita o profissional a separar os conteúdos que são seus daqueles que pertencem aos seus pacientes.
Boa resposta, talvez para leigos...mas muito incompleta se quisermos realmente aprofundar a natureza desta questão...
Passamos horas e horas a ouvir e a sermos empáticos com as outras pessoas, enquanto descuidamos as nossas próprias famílias e a nós mesmos. Depois de um longo dia a ver pacientes, quantos de nós sentem-se realmente dispostos a lidar com as queixas quotidianas dos nossos filhos e companheiros ou, ainda, quantos de nós têm disposição para fazer desporto ou uma refeição equilibrada?
As queixas mais frequentes dos psicoterapeutas passam por sentirem dificuldades em dormir, problemas de sobrepeso e exaustão generalizada...
Transformamo-nos heróis sensíveis dos pacientes, subitamente em participantes relapsos dos nossos sistemas familiares e cuidadores negligentes dos nossos corpos...
Os terapeutas podem e devem recorrer a vários recursos para cuidarem da sua saúde pessoal, mas todos implicam uma mudança de rotina de trabalho e de vida. Medir melhor o número de pacientes atendidos, deixar espaços de tempo razoáveis para alimentação, exercício físico, etc., são alguns destes recursos que, por simples que pareçam, são tremendamente difíceis de serem implementados.
Não se trata apenas de trabalhar menos, é preciso substituir uma parte da confirmação financeira e profissional que advém de uma agenda lotada, por uma consciência crescente de que somos tão vulneráveis quanto nossos pacientes e de que é impossível advogar causas alheias se não cuidarmos de nós próprios...”


Fadiga do Psicoterapeuta – Estresse Pós-Traumático Secundário
Rosa Cukier


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Exemplo prático de um caso de Mediação Familiar II



Informação prévia
Albano e Rosa estão nos seus cinquenta. São proprietários duma quinta na qual trabalharam em conjunto. Rosa deixou Albano há 2 anos e vive com um novo parceiro. Têm dois filhos crescidos que trabalham e são independentes do ponto de vista financeiro.”

1ª sessão de mediação
“Na primeira reunião Albano está muito calmo, parece deprimido. O mediador tem de o manter envolvido na reunião fazendo-lhe perguntas diretas, reconhecendo preocupações de ambas as partes e repetindo ou reenquadrando as suas respostas. Quando são colocadas perguntas genéricas duma forma indireta, Rosa responde por ambos e Albano fica calado. Mantém os olhos baixos e não é fácil estabelecer contato visual com ele.

Não parece haver questões a curto prazo visto que este casal resolveu muito bem os seus problemas durante os últimos dois anos. Continuam a ter uma conta bancária conjunta. À primeira vista os problemas parecem ser basicamente de natureza financeira, resultante do divórcio que Rosa pretende obter. Albano está extremamente relutante em falar de divórcio.

Dificuldades na 1ª reunião com Albano e Rosa
1.Albano está muito afastado. Parece ter-se refugiado atrás duma parede de dor e tristeza. Ainda tinha esperanças de que Rosa voltasse para ele. Pretende adiar o divórcio tanto quanto possível.
2. Rosa está impaciente e frustrada. Acha que assumiu uma atitude discreta para dar a tempo a Albano para aceitar o facto de que ela o tinha deixado. Ela não pode esperar indefinidamente.
3. Albano receia que a quinta a que ele se sente profundamente ligado e da qual depende do ponto de vista financeiro tenha de ser vendida se Rosa insistir numa solução total e final.
4. Rosa está ressentida com o facto de que todo o trabalho que ela realizou durante muitos anos para aumentar a rentabilidade da quinta seja negado por Albano. Ela pretende “uma quota justa”.
5. Rosa é dogmática e fala alto. Albano está quase sempre calado. O mediador observa um episódio em que Rosa ataca verbalmente Albano: Albano recua ainda mais e Rosa, frustrada pela falta de resposta, ataca ainda mais veementemente.
6. Rosa tem um novo parceiro. Albano não tem.”
Excerto retirado do livro Mediação Familiar, Lisa Parkinson, 2008.

Estas “anotações” do mediador podem parecer muito claras, mas importa referir que a informação recolhida nas primeiras sessões de mediação não advém só do que é verbalizado pelas partes, mas também da postura não-verbal de cada um e da dinâmica relacional que se observa em sessão. Nos casos de mediação, acontece frequentemente os interesses verbalizados inicialmente pelos mediados não corresponderem aos verdadeiros interesses que os levam a recorrer à mediação, encontrando-se estes camuflados. Pode acontecer que os próprios mediados nem tenham noção deste desfasamento. O primeiro trabalho do mediador deve ser o de escutar e descobrir o que poderá estar latente no discurso dos mediados. Podemos encarar esta situação pensando que nenhum conflito é como se apresenta à superfície, tal como um icebergue, existe sempre uma parte oculta que não é visível.

Carolina Teves

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pedra no Caminho

 
Há algum tempo atrás li algures uma lenda que rezava algo mais ou menos assim:
Havia um rei muito sábio que não se poupava a esforços para ensinar bons hábitos ao seu povo e para isso fazia com frequência coisas aparentemente estranhas.
-Nada de bom pode vir para uma nação, cujo o povo reclama e espera que os outros resolvam os seus problemas. As coisas boas acontecem a quem lida com os seus problemas – dizia ele.
Certa noite enquanto todos dormiam, ele colocou uma pedra enorme na estrada que passava pelo palácio. Depois escondeu-se atrás de uma cerca para ver o que acontecia.
Pela manhã, veio um agricultor na sua carroça carregada com sementes para entregar no palácio:
- Onde já se viu isto?! - disse contornando a pedra – Estes preguiçosos não retiraram esta pedra! - e prosseguiu o caminho, reclamando da inutilidade dos outros, sem contudo, ele próprio tocar na pedra.
De seguida, passou um soldado que cantando pela estrada, tropeçou na pedra e caiu.
- Bolas! - vociferou enquanto pontapeava a pedra e atirava terra para o ar, irado pela irresponsabilidade e insensatez de quem não tirava dali a pedra.
Todos os que por ali passavam reclamavam indignados pela presença da pedra no caminho.
Ao cair da noite, a filha do moleiro, cansada da sua jornada de trabalho, percorria a estrada do palácio. Ao ver a pedra estacou e disse:
- Está a anoitecer, podia ter caído aqui! E se a pedra amanhã ainda aqui estiver ainda posso cair ou pode alguém também cair e magoar-se. Vou tirar esta pedra daqui!
Tentou arrastar a pedra, mas era tão pesada...Então empurrou, empurrou e empurrou e ainda que aos bocadinhos de cada vez e levando bastante tempo conseguiu dali retirar a pedra. Eis que então, no lugar onde a pedra estava descobriu para sua surpresa, uma caixa. Levantou a tampa e leu: Esta caixa pertence a quem retirar a pedra e olhando para o seu interior viu que se encontrava repleta de ouro.
Quantas vezes nos deparamos com pedras no nosso caminho e quantas vezes as evitamos, contornamos, reclamamos por existirem, por alguém as ter lá posto e por nada acontecer para que deixem de lá estar. Contudo, esquecemos-nos ou não queremos ver que temos também responsabilidade na sua permanência no nosso caminho. Muitas vezes o medo de retirarmos as pedras do nosso caminho mantem-nos prisioneiros de situações que não nos satisfazem, ao fim ao cabo, não sabemos o que está para lá da pedra, não sabemos o que vai ficar se a retirarmos e mantemo-nos então "confortavelmente" instalados no desconforto, na incerteza, na dor, no sofrimento...Outras vezes, sentimo-nos incapazes e fracos para as removermos sozinhos ou até achamos que se elas ali estão, nada mais há a fazer do que parar de caminhar.
A terapia constitui-se como forte aliado para olharmos para as pedras que nos incomodam e nos dar uma nova visão tanto delas, como do desconhecido que está para além e no lugar delas. A terapia ajuda a encontramos dentro de nós " a filha do moleiro".
Elisabete Gomes


quarta-feira, 8 de maio de 2013


"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um é como é."
                                                                                 Fernando Pessoa
 
 
 
    - Nós não aceitamos este tempo. Queremos sol e não aceitamos que estamos nos Açores e que chove e vai chover.
    - É mesmo...
    - É uma resistência que temos, se aceitássemos não daríamos conta.
    - Eu confesso a minha resistência... nem casaco trouxe...
    - Com este que tenho vai dar ao mesmo... vou ficar encharcado. Mas trouxe guarda-chuva...
    - Preparado, mas perplexo com o tempo. É, realmente, difícil de aceitar. E andamos nisto. Porque sabemos que existe sol, que isto é mais bonito com sol, que agora mesmo está sol noutro sítio. E insistimos. Insistimos em falsos problemas. Sim. Falsos, pois não há bem uma solução. É como dizes: por que raio não aceitamos e pronto?! Se fosse um problema procurava a solução de colocar o sol. Aceito. Não aceito. Resisto. Vejo: é uma limitação e ultrapassa-me! Não há nada que possa fazer para que pare de chover! Olha, é como aquela notícia de há pouco... aquela do acidente na A2... uma fila de quilómetros! O que vais fazer?! Voar?! Não podes! Esperas!
    - Mas podes ligar o rádio...
    - Exacto! Distraíres-te com qualquer coisa e, até mesmo, usufruir, descobrir... sei lá...
    - Sim, ocupar-me, não preocupar-me.
    - Não podemos mudar tudo o que nos incomoda.
    - Podemos adaptar-nos.
    - E contornar. E ser feliz também nos dias de chuva.
    - E esperas pelo sol?
    - Ele vai aparecer... vivemos nos Açores, ele aparece!
     
                                                                                 Ruben Santos

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Expressão Corporal para a vida pessoal




O corpo é um canal privilegiado para o trânsito da energia pessoal e dos outros. No corpo integra-se o físico, o psíquico, o social e o familiar.

O objectivo da Expressão Corporal é lograr que a pessoa se liberte dos seus bloqueios. Tonificar, fortalecer e flexibilizar o corpo físico fará com que possa transitar pelas suas diversas personalidades ou facetas sem ficar preso em nenhuma. Potenciará-se assim a vitalidade e a alegria.

O trabalho corporal fará com que a pessoa tome contacto com a sua riqueza pessoal e com o seu potencial transformador. Ampliar a capacidade respiratória. Sincronizar e alinhar os seus centros de energia  Facilitar o encontro consigo próprio e os outros. Melhorar a postura e assim aliviar dores corporais. Recuperar o romance com o próprio corpo. Mover-se, dançar, jogar e divertir-se. Expandir a consciência.

E como o grupo 180 Terapias Acores acredita que não é só através da palavra que se encontra a cura, em Junho vamos a oferecer-vos a oportunidade de participar num workshop dirigido pela Guadalupe de la Aldea sobre trabalho corporal. Guadalupe é psicóloga e dançarina de contemporâneo, especializada em expressão corporal em Buenos Aires (Argentina)

Um luxo a não perder, mais perto da data daremos mais informações! Fique atento/a