quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Infidelidade

 
«As pessoas são infiéis por inúmeras razões: amor contaminado, vingança, anseios por realizar, desejo puro e simples. Por vezes, uma relação extraconjugal é uma procura de intensidade, uma rebelião contra os limites impostos pelo casamento. A transgressão é um afrodisíaco e, por vezes, os segredos são uma fonte de autonomia, ou uma reacção violenta contra a falta de privacidade. O que pode ser mais excitante do que uma chamada telefónica murmurada na casa de banho? Por fim, a mãe atarefada e tensa pode voltar a sentir-se mulher; o seu amante não sabe nada acerca do Lego partido ou do canalizador que não apareceu pela segunda vez seguida.
Uma ligação ilícita pode ser catastrófica, mas também pode ser uma libertação, uma fonte de força, uma cura. Frequentemente, é todas estas coisas ao mesmo tempo. Quando a intimidade desapareceu, quando deixámos de conversar, quando há anos que já não somos tocados, estamos mais vulneráveis à gentileza de estranhos. Quando as crianças são pequenas e dependentes, a apreciação extraconjugal pode ser sentida como um tónico. Quando já são mais crescidas e saíram de casa, quem fica no ninho vazio pode procurar substituí-las noutro lado. Se a saúde nos falta, ou se a morte há pouco nos visitou, podem assaltar-nos explosões de insatisfação, um grito por algo melhor. Algumas aventuras extraconjugais são actos de resistência; outras acontecem quando não oferecemos qualquer resistência. A infidelidade pode ser o toque a rebate em defesa de um casamento, o alerta para uma necessidade urgente de lhe prestar atenção. Ou pode ser o toque a finados após o último suspiro de uma relação».

(Esther Perel, 2006, Amor e Desejo na Relação Conjugal, p.187)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Na procura da nossa individualidade...II



“Que desafio...
Tomar uma decisão e escolher um caminho diferente em que possa construir uma nova realidade.
Deixar para trás todas as dúvidas e angústias: permaneço na relação ou termino; entrego-me ou não; fico ou luto; não consigo decidir...
Todos os minutos do dia são passados com ansiedade e incertezas...no trabalho e com a família estou sem disposição...parece que ninguém me compreende e sinto a crítica em todo o lado...
Tenho que escolher...sinto que já escolhi: finalmente! Que alivio quando fecho os olhos e penso: “sou eu que desenho os contornos da minha vida...”
Posso fazer diferente e ter novas oportunidades de escolha, não repetir o que não resultou antes e dedicar-me a desenhar uma nova imagem do presente...sinto que posso começar de novo ao integrar a minha experiência do passado numa caixa guardada no meu intimo...
Sei que vou ter um grande trabalho pela frente mas não me importo...estou surpreendida comigo própria, pois nunca pensei ter coragem de cortar para conseguir voltar a sonhar...”



                                                                                                                                         
                                                                                           Joana Barros
 
 
 
 
 
 
 
 













   

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Conflito Parental no Divórcio

O que um pai não deve fazer durante um divórcio


É comum pensar-se que o divórcio é um acontecimento negativo para todos os envolvidos, sobretudo para os filhos do casal. De facto, os estudos mostram que o divórcio pode ser considerado um dos acontecimentos mais traumáticos do ciclo de vida de um individuo, sendo este marco na vida familiar equiparado à morte de um familiar próximo. Contudo, a literatura tem demonstrado também que o factor que mais consistentemente determina as dificuldades de ajustamento dos filhos não é o divórcio ou a separação em si, mas sim o conflito parental. Os estudos mostram que as crianças expostas a situações de conflito parental têm maior risco de se confrontarem com dificuldades de ajustamento a curto, médio e longo prazo, nas mais variadas esferas das suas vidas, nomeadamente a nível fisiológico, comportamental, emocional, relacional e escolar. Ao nível fisiológico e comportamental podem ocorrer alterações nas dinâmicas do sono ou alimentação, havendo inclusive algumas crianças que regridem nos seus estádios de desenvolvimento. Para além disso, estas crianças parecem ficar mais vulneráveis fisicamente, referindo por diversas vezes sintomas como dores de estômago ou de cabeça, podendo ocorrer também maior externalização de problemas através de agressividade, tanto física como verbal, dificuldades de auto-controlo, desobediência, delinquência. No que diz respeito às questões emocionais podem surgir problemas como, por exemplo, depressão, culpa, tristeza, ansiedade, baixa auto-estima e auto-conceito, sendo que quanto maior a exposição ao conflito, mais emocionalmente inseguros se sentem os filhos. Ao nível relacional podem surgir dificuldades no relacionamento com os irmãos e mesmo com os pais, sendo que estes acabam por ver o seu funcionamento parental afectado, uma vez que o conflito pode colocar os pais numa posição menos disponível para os filhos, por exemplo, tornando-os mais permissivos e inconsistentes na sua educação. Acrescente-se que, a longo prazo, este contexto negativo influencia a percepção que os filhos têm das relações românticas e do casamento. Por fim, relativamente à questão escolar, o rendimento escolar destas crianças pode ser prejudicado, bem como podem ocorrer alterações do comportamento em sala de aula, face aos pares e até mesmo aos professores. Resumindo, pode-se afirmar convictamente que o conflito parental cria um contexto familiar stressante que afecta negativamente o desenvolvimento integral e saudável dos filhos.


Para se informar sobre como se separar sem prejudicar os seus filhos, sugerimos que a leitura do seguinte manual: “Separação do casal – Guia para enfrentá-la sem prejudicar os filhos” da autoria de José Aguilar, publicado pela Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Defesa dos Direitos dos Filhos (disponível online).

Bibliografia:

Davies, P. & Cummings, E. (1994). Marital Conflict and Child Adjustment: an emotional security hypothesis. Psychological Bulletin, 116 (3), p.387-411.

Moura, O. & Matos, P. (2008). Vinculação aos pais, divorcio e conflito interparental em adolescentes. Psicologia, Vol. XII (1), p. 127-152.

Pinto, H. & Pereira, M. (2005). Separação e Divórcio: um olhar feminino. Coimbra: Quarteto.

Raposo, H. E., et al (2011). Ajustamento da criança à separação ou divórcio dos pais. Revista de Psiquiatria Clínica, 38 (1), 29-33.

Shaw, D. (1991). The Effects of Divorce on Children´s Adjustment: Review and Implications. Behavior Modification, 15(4), 456- 585.

                                

sábado, 11 de agosto de 2012

Diga "sim" à sua caixa negra


Desde cedo aprendemos que determinados comportamentos são errados ou pouco desejáveis. Aprendemos, e até ensinamos aos descendentes, que mentir, ter inveja, sentir raiva ou ódio por alguém, fazer birras… são comportamentos, sentimentos e atitudes a corrigir ou a punir.

Morte a tais atributos?! E o que nos vai restar? As características socialmente aceites e valorizadas. Pois muito bem, seremos quase perfeitos. Guardaremos todos os “excedentes” numa caixa, algures no nosso corpo e, de preferência, nem falaremos dela a ninguém e fazemos de conta que não existe.

Hum… sentimos o peso… a caixa pesa… o conteúdo sai de outras formas… que chatice…

Reduzimos a possibilidade de ver de outros prismas, sentir, pensar e experimentar noutros ângulos.

Vamos procurar a caixa? Dar-lhe um nome? Sim. É negra e precisamos dela – caixa negra!

Na fotossíntese as plantas também necessitam do dióxido de carbono, tem uma função primordial para a posterior libertação de oxigénio.

Vamos sentir inveja? Sim, por favor! Mais do que humano pode ser conotada positivamente. Como dizia Rui Zink na sua obra Luto Pela Felicidade dos Portugueses, não senti-la poderá remeter-nos para a irritante autossuficiência e o mais penoso autismo, “se a inveja é ver os outros, não ter inveja é não ver os outros (Rui Zink).

E, já agora… deixe sair uma birra de vez em quando. Ou, simplesmente, descodifique aquela sensação no estômago, sim, aquele nó…
Ruben Santos

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Na procura da nossa individualidade....

“Crescemos, vivemos e tornamo-nos pessoas num mundo cheio de adversidades e imprevistos...
Mergulhamos na aventura da paixão e encontramos o outro...sonhamos, cedemos e partilhamos...
“Afinal não era bem isto que queria!” penso...olho-me ao espelho e sinto a tristeza e angústia no meu olhar...
O outro já não me vê como antes, algo mudou, mas o quê? Sou eu que estou diferente? Será que já não o atraio e deixou de gostar de mim...ou será que o meu olhar é que o vê diferente e afinal sou eu quem deixa de amar...
As incertezas assaltam o meu pensamento, não consigo parar de pensar...estou exausta...Preciso de respirar e organizar as minhas ideias, ouvir-me a mim própria...
Qual o problema se deixei de amar ou de ser amada?
A pressão da família, amigos e do trabalho sempre a reforçar o mito da felicidade quando passamos a ser dois...como se estar só fosse sinónimo de solidão...
Encontrar o meu eu e conhecer-me, aceitar o que tenho no aqui e agora...um caminho a percorrer repleto de emoções e novas descobertas...que desafio!”




Joana Barros