sexta-feira, 25 de outubro de 2013

“Parabéns a você, nesta data querida…”, enquanto cantava os parabéns numa festa de aniversário, dei por mim a pensar na importância de estar ali, de partilhar esta celebração com quem me rodeava e no significado que esta celebração, como aliás tantas outras têm para nós enquanto indivíduos, família e sociedade.
Os aniversários, os casamentos, os batizados, as comunhões, o Natal, a Páscoa, são algumas das celebrações que vivenciamos nas nossas vidas. Destacam e ressaltam acontecimentos positivos, promovem a união e sentimento de pertença de quem neles se integra e como tal são rituais estruturantes e que contribuem para o nosso desenvolvimento e bem estar.
Mas, serão só estes os rituais a destacar nas nossas vidas? Que importância têm os rituais?

“Os rituais, segundo Imber-Black & Roberts (1992), são ritos simbólicos, que auxiliam os indivíduos a fazer um trabalho de relacionamento, mudança, cura, crença e celebração. Partindo dessa estruturação, podemos dizer que os rituais familiares são actividades sociais simbólicas, repetitivas, altamente valorizadas, as quais transmitem os valores duradouros, as atitudes e os objetivos da família.
A maioria dos pais tem agendas sobrecarregadas e pouco tempo disponível para engajar-se em rituais com os filhos. Almoçar, jantar, tomar o café da manhã, ler uma história ao ir para a cama, enfim, situações cotidianas, altamente ritualizadas em épocas não muito antigas, não existem mais. Na maioria das famílias, os pais não estão mais disponíveis no horário de refeições. Quando chegam em casa, os filhos já foram dormir.
O que os rituais trazem de tão importante, além do convívio?
Os rituais são altamente simbólicos, não importa se parecem tão comuns, como escovar os dentes. O valor do ritual está justamente na sua inserção em um contexto simbólico, isto é, algo que tenha um significado muito mais profundo do que o simplesmente objetivo e observável. Os rituais familiares são tão privados a cada grupo familiar porque possuem significados diferentes, dependendo dos contextos diversificados das pessoas que os utilizam.
Existem vários tipos de rituais:
a) Rituais de celebração: homenageiam situações que foram bem-sucedidas ou simplesmente expressam amor e carinho. Eles comemoram o que é positivo e permitem uma conexão dos indivíduos com um senso de humanidade através do tempo, favorecendo as lembranças felizes. Rituais desse tipo são os aniversários, nascimentos, casamentos, promoções, aquisições pessoais significativas etc.
b) Rituais de libertação: rituais que permitem desvencilhar os indivíduos de emoções dolorosas, favorecendo um senso de proximidade e de compartilhar. Rituais de libertação podem ser utilizados para perdoar os outros, reconciliar diferenças, lidar com luto e recobrar-se de eventos traumáticos.
c) Rituais de transformação: importantes quando os indivíduos mudam para fases diferentes de vida, auxiliando a terminar situações e iniciar novas. Rituais desse tipo estão presentes em sociedades que celebram a passagem da adolescência para a idade adulta.
Quanto às suas funções dentro da família, em primeiro lugar, os rituais permitem estabelecer um senso de estabilidade. Todas as famílias experimentam situações de crise ou estresse, e os rituais têm a capacidade de prover as famílias com estabilidade durante esses períodos.
Os rituais também trazem uma identidade familiar, pois são ocasiões em que os membros da família transmitem valores familiares e crenças, reforçam a herança familiar e reconhecem mudanças na família, além de criar sentimentos de pertencer ao grupo.
Além disso, permitem a socialização: os rituais familiares são experiências de socialização
entre os membros da família, para que as famílias possam transmitir informações culturais e normativas, assim como valores e crenças através das gerações. Por exemplo,rituais lingüísticos, como ensinar a criança a dizer “por favor” e “obrigado”.
Os rituais familiares são estabilizadores da família e, embora haja pouca evidência de que exista influência dos rituais sobre o desenvolvimento, há suficientes provas de que as rotinas diárias e os rituais estão relacionados com o funcionamento psicossocial.
As famílias apresentam vários graus de ritualização e eles se modificam muito quanto ao simbolismo, emoção e significado afetivo relacionados.
É essencial que as famílias mantenham seus rituais através do tempo, mas não significa que esses tenham de permanecer os mesmos. Aqueles rituais que falham em adaptar-se às necessidades familiares perdem o sentido e tornam-se vazios. Quando isso ocorre,os rituais perdem seu simbolismo, e os membros da família celebram eventos com um senso de “obrigação”.
Assim, os rituais são eventos dinâmicos, que devem responder às necessidades de
mudança da família, para que perdurem no tempo.”
                                                                              Geraldo A. Fiamenghi Rituais familiares: alternativas para a reunião das famílias


Elisabete Gomes

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Alienação Parental


Hoje deixamos aqui o link do vídeo promocional do documentário Indizível - A alienação Parental em Portugal. Pretendemos assim alertar e sensibilizar para o tema.


Tal como se explica no texto do vídeo, alertamos para o facto de todos os testemunhos serem de pais, sexo masculino, o que reflete a opção de quem fez o documentário, pois a alienação parental pode ser perpetuada por mães, pais, avós ou outros familiares.

http://vimeo.com/12489169

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

FÉRIAS

“Sempre me fascinou ver como as pessoas vão a pouco e pouco encarando de forma diferente as férias. Desde logo quase todos passamos a só gozar as grandes, mas de tal forma encolhidas e isoladas que o adjectivo deixa de se justificar, são as férias e ponto final. Se a duração é menor, a possibilidade de escolha torna-se quase nula. Os estudos dos garotos ditam a sua lei e empurram-nos inexoravelmente para julho ou agosto (…).
E depois existe o subsídio de férias já destinado, a necessidade de articular as férias de ambos os pais, o problema de como ficam os avós. (…) Recompondo-nos física e mentalmente após um ano de trabalho, permitirão cumprir um sonho adiado há onze meses – a família estar em família.
A profissão ensinou-me a ser comedido. No princípio do Verão ouço com frequência discursos de esperança, “talvez nas férias…”Aconteça o quê? Um casamento fracassado se recomponha, o silêncio com os miúdos dê lugar a conversas fáceis, o futuro não se perfile igual ao presente, ambos tão distantes do que o passado prometia. E às vezes os pedidos são atendidos, as pessoas regressam reconciliadas com o mundo em geral e o seu nicho ecológico em particular (…). Às vezes…porque também surgem outras surpreendidas, não só os problemas não se resolveram como até pioraram.
As férias colocam-nas em situações que amiúde foram evitadas - consciente ou inconscientemente – ao longo do ano. É verdade que a vida é dura e apressada, mas por vezes os silêncios, as ausências, os pseudodiálogos através da novela, da prestação da casa e das notas dos miúdos reflectem uma distância entre as pessoas que surge de dentro para fora e não no sentido inverso. Nesses casos as férias tornam-se angustiantes, os outros ali tão perto, 24 horas por dia, disponíveis, oficialmente o vento está de feição e no entanto o casal ou toda a família permanecem incapazes de evitar os baixios; encalham.  
Mas sempre deixo uma pista, tão simples que aceitarei de bom grado o rótulo de discípulo de La Palisse: as férias agradáveis “preparam-se” ao longo do ano.”

Júlio Machado Vaz

“Conversas no Papel”