segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Sexualidade e (In)Satisfação Conjugal - Dois lados da mesma realidade?"





"Habitualmente os casais são confrontados por um conjunto de questões nesta área, muitas vezes condicionados pelas crenças que foram interiorizando ao longo do seu percurso de vida, mas também por um conjunto de informação que é transmitida erroneamente através de mitos e tabus associados a esta temática, bem como pelos significados que são valorizados pela nossa sociedade. Existe uma influência sócio-cultural nesta área, o que condiciona aquilo que o casal espera um do outro. Esta situação pode acabar por afetar o casal, fazendo-o viver a sexualidade com alguma tensão. É importante ter em conta que cada casal deve construir as suas próprias regras neste campo: não existe o certo ou o errado desde que os dois elementos estejam satisfeitos e confortáveis na prática sexual, podendo esta ser divergente da de outros casais.

A Sexualidade assume um papel essencial nas relações conjugais, sendo umas das componentes com grande impacto no bem-estar do casal. 

Considera-se que a satisfação sexual está estritamente relacionada com a satisfação geral na relação, sendo que os factores que condicionam a insatisfação sexual são divergentes para ambos os sexos. 
O sexo feminino, no âmbito da sexualidade, valoriza aspetos como o amor, afeição e carinho, para que a relação sexual seja satisfatória. Enquanto, que para o sexo masculino, a frequência e a variedade de atividades sexuais são habitualmente os fatores mais importantes. Estes elementos podem provocar conflitos entre o casal por existirem necessidades diferentes para os dois e divergentes formas de expressão das mesmas. 
Assim é necessário que sejam comunicados e partilhados pelo casal, de modo a que possam fazer negociações, para que ambos se sintam preenchidos e satisfeitos nesta área. 

É importante ter em conta que a sexualidade no casal não é desprovida da componente afetiva, sendo que aspetos que provocam desagrado na relação podem provocar o desencantamento e, consequentemente, o afastamento de um dos elementos, ficando comprometida a intimidade do casal. 

A sexualidade deve ser encarada como um elemento fundamental de partilha e intimidade, onde se conjugam os afetos, as fantasias, as aspirações, compromisso e investimento, sendo a junção destes fatores uma importante fonte de manutenção do relacionamento, produzindo um cocktail de harmonia e satisfação conjugal.

Homens e mulheres funcionam de forma diferente, valorizando diferentes aspectos da sexualidade,  o que não tem que ser necessariamente um obstáculo na relação. A forma como os homens sentem e expressam amor pelas suas companheiras está estritamente interligado ao relacionamento sexual. Durante o ato sexual ele está mais disponível para dar e receber amor. Assim, se perante a sua iniciativa de iniciar a relação sexual a mulher recuar, geram-se sentimentos de rejeição, sendo este um dos grandes desafios para relação, isto é, gerir os tempos de cada um e os significados que são atribuídos por ambos no que se refere a essa situação. Quando a parceira vai continuamente recusando as investidas do companheiro, sem qualquer tipo de explicação, pode surgir, devido aos pensamentos e sentimentos não expressos, afastamento da parte do homem e até mesmo perda de desejo em relação à mesma, pois sempre que é recusada a atividade sexual, o homem tem que suprimir o seu desejo. Se esta situação acontecer repetidamente, o desejo vai sendo suprimido automaticamente, gerando um grande desgaste para o mesmo. O mesmo acontece com a mulher, quando sente que as suas necessidades de afeto, de atenção não são respeitadas vai-se progressivamente afastando, ficando menos receptiva ao ato sexual. Mas como este aspeto não é partilhado com o companheiro vão-se gerando mágoas e ressentimentos, ficando comprometido o relacionamento, mesmo nas outras áreas. Neste caso, quando não há o compromisso de comunicar com o outro as suas necessidades ou quando não há disponibilidade para entender aquilo que o outro precisa, pode-se estar a criar espaço para que outros os encantem, podendo surgir as relações extraconjugais como fonte de satisfação dos desejos sexuais que são reprimidos ou não satisfeitos na relação actual, mesmo que possa estar preservado o sentimento pelo outro. Estas situações podem mesmo gerar rupturas conjugais, pois um dos elementos do casal pode sentir que as suas necessidades não são consideradas importantes pelo outro. Para além disso, a existência de outros problemas conjugais, ao não serem resolvidos afeta a vida sexual do casal. Assim, é necessário existir um investimento das duas partes para melhorar a relação sexual, não descurando as necessidades do outro, bem como tentar perceber e resolver os outros problemas ou dificuldades que estão a ter repercussões no bem-estar do casal.
As disfunções sexuais podem surgir associadas à própria disfuncionalidade da relação, originando ou reforçando um problema sexual existente. Quando surge um destes problemas é necessário procurar ajuda médica, para perceber se existe uma causa biológica, sendo necessário o tratamento medicamentoso, mas também analisar se a disfunção tem uma causa psicológica ou se é provocada pelo stress, cansaço, estilo de vida, entre outros. 

A Terapia de Casal pode permitir melhorar a comunicação do casal, ultrapassando grande parte dos bloqueios que estão associados à atividade sexual, facilitando a construção e a definição da sua sexualidade, aumentando a satisfação e, consequentemente, potenciando uma maior aproximação do mesmo. Para além disso, com o evoluir da relação, o desejo sexual pode ir diminuindo, contaminado pela rotina do casal, pelo nascimento dos filhos e pelo rol de exigências que vão surgindo na vida de cada um, sendo por isso importante que o casal continue a investir na relação e que reconquiste a atração. 
A Terapia de Casal pode facilitar este processo de descoberta de si próprio e do outro, permitindo derrubar o muro do silêncio e do ressentimento que se pode ir construindo entre os elementos do casal. "

 Sónia Ferreira,  Psicóloga Clínica e Terapeuta de Casal