segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Aprender a despedir-se, aprender a reciclar

Após o São Valentim onde passamos semanas a falar do amor, faz sentido também falar do desamor, do acabar das relações, e de como fazer, para tirar partido do passado. Adaptamos o texto da  Dra. Fina Sanz onde fala sobre como “reciclar “ estas experiências. Leiam com atenção.

Quiçá não nos apercebemos, mas no decorrer da nossa vida estamos dizendo adeus continuadamente. Adeus à nossa infância quando entramos na puberdade, à nossa adolescência quando entramos na juventude, à juventude dos nossos corpos quando vamos envelhecendo, aos nossos filhos quando crescem, quando criam os seus espaços de independência ou quando deixam a casa; adeus aos nossos pais e à relação que tivemos com eles na infância, ao trabalho que tivemos, à casa onde vivemos, a uma amiga que se muda de localidade, a um amigo que morre, a um amor que deixa de o ser…

Cada período da nossa vida deixa para trás coisas que são irrecuperáveis -o que foi, foi- porque é passado. O presente é outra coisa, integra elementos do passado, é certo, mas constitui uma situação aberta a outras possibilidades e contém o gérmen do futuro, que também não existe.

Em cada momento presente estamos dizendo adeus a alguma coisa, e abrindo-nos a novas possibilidades vitais. Passado e futuro estão integrados no presente, mas o único que de  verdade  existe é o presente. O passado já não existe e o futuro não sabemos como será.

Contudo, a realidade é que frequentemente vivemos mais no passado ou no futuro, do que no presente. Dedicamos grande parte da nossa vida a queixarmo-nos do quanto fomos infelizes no nosso passado (por culpa da nossa mãe, do nosso pai ou parceiro/a...) e com isso justificamos a nossa infelicidade atual sem fazer nenhuma coisa para mudá-la e ficamos na queixa. É como se continuássemos lutando por um futuro, situados no passado com a esperança de que este mude.
Viver no presente implica ir dizendo adeus ao passado, fechar episódios, etapas da nossa vida. Não para esquecer, mas sim para integrá-las como experiência vital com todo o bom e o mau que tiveram e para poder transformá-las numa experiência de aprendizagem para o presente. “ pode-se perdoar mas não esquecer” , dizia a terapeuta Monique Fradot. Acho que o que “esquecemos” realmente não fica eliminado, acho que fica guardado ao nível do inconsciente, e atua sem que nos apercebamos e magoa-nos. Acredito que, as coisas que nos lembramos -mesmo com dor- e que podemos perdoar após o tempo de luto necesssário, são por nós recicladas emocionalmente e reconvertidas numa experiência positiva.

“Para esquecer há que lembrar-se” como diria A. Mastretta.

Por isso a pergunta que devemos fazer-nos é: onde estamos a viver? No passado? No futuro? Ou no presente? Reciclar é uma arte!