sexta-feira, 24 de maio de 2013

Exemplo prático de um caso de Mediação Familiar II



Informação prévia
Albano e Rosa estão nos seus cinquenta. São proprietários duma quinta na qual trabalharam em conjunto. Rosa deixou Albano há 2 anos e vive com um novo parceiro. Têm dois filhos crescidos que trabalham e são independentes do ponto de vista financeiro.”

1ª sessão de mediação
“Na primeira reunião Albano está muito calmo, parece deprimido. O mediador tem de o manter envolvido na reunião fazendo-lhe perguntas diretas, reconhecendo preocupações de ambas as partes e repetindo ou reenquadrando as suas respostas. Quando são colocadas perguntas genéricas duma forma indireta, Rosa responde por ambos e Albano fica calado. Mantém os olhos baixos e não é fácil estabelecer contato visual com ele.

Não parece haver questões a curto prazo visto que este casal resolveu muito bem os seus problemas durante os últimos dois anos. Continuam a ter uma conta bancária conjunta. À primeira vista os problemas parecem ser basicamente de natureza financeira, resultante do divórcio que Rosa pretende obter. Albano está extremamente relutante em falar de divórcio.

Dificuldades na 1ª reunião com Albano e Rosa
1.Albano está muito afastado. Parece ter-se refugiado atrás duma parede de dor e tristeza. Ainda tinha esperanças de que Rosa voltasse para ele. Pretende adiar o divórcio tanto quanto possível.
2. Rosa está impaciente e frustrada. Acha que assumiu uma atitude discreta para dar a tempo a Albano para aceitar o facto de que ela o tinha deixado. Ela não pode esperar indefinidamente.
3. Albano receia que a quinta a que ele se sente profundamente ligado e da qual depende do ponto de vista financeiro tenha de ser vendida se Rosa insistir numa solução total e final.
4. Rosa está ressentida com o facto de que todo o trabalho que ela realizou durante muitos anos para aumentar a rentabilidade da quinta seja negado por Albano. Ela pretende “uma quota justa”.
5. Rosa é dogmática e fala alto. Albano está quase sempre calado. O mediador observa um episódio em que Rosa ataca verbalmente Albano: Albano recua ainda mais e Rosa, frustrada pela falta de resposta, ataca ainda mais veementemente.
6. Rosa tem um novo parceiro. Albano não tem.”
Excerto retirado do livro Mediação Familiar, Lisa Parkinson, 2008.

Estas “anotações” do mediador podem parecer muito claras, mas importa referir que a informação recolhida nas primeiras sessões de mediação não advém só do que é verbalizado pelas partes, mas também da postura não-verbal de cada um e da dinâmica relacional que se observa em sessão. Nos casos de mediação, acontece frequentemente os interesses verbalizados inicialmente pelos mediados não corresponderem aos verdadeiros interesses que os levam a recorrer à mediação, encontrando-se estes camuflados. Pode acontecer que os próprios mediados nem tenham noção deste desfasamento. O primeiro trabalho do mediador deve ser o de escutar e descobrir o que poderá estar latente no discurso dos mediados. Podemos encarar esta situação pensando que nenhum conflito é como se apresenta à superfície, tal como um icebergue, existe sempre uma parte oculta que não é visível.

Carolina Teves

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