quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Conflito Parental no Divórcio

O que um pai não deve fazer durante um divórcio


É comum pensar-se que o divórcio é um acontecimento negativo para todos os envolvidos, sobretudo para os filhos do casal. De facto, os estudos mostram que o divórcio pode ser considerado um dos acontecimentos mais traumáticos do ciclo de vida de um individuo, sendo este marco na vida familiar equiparado à morte de um familiar próximo. Contudo, a literatura tem demonstrado também que o factor que mais consistentemente determina as dificuldades de ajustamento dos filhos não é o divórcio ou a separação em si, mas sim o conflito parental. Os estudos mostram que as crianças expostas a situações de conflito parental têm maior risco de se confrontarem com dificuldades de ajustamento a curto, médio e longo prazo, nas mais variadas esferas das suas vidas, nomeadamente a nível fisiológico, comportamental, emocional, relacional e escolar. Ao nível fisiológico e comportamental podem ocorrer alterações nas dinâmicas do sono ou alimentação, havendo inclusive algumas crianças que regridem nos seus estádios de desenvolvimento. Para além disso, estas crianças parecem ficar mais vulneráveis fisicamente, referindo por diversas vezes sintomas como dores de estômago ou de cabeça, podendo ocorrer também maior externalização de problemas através de agressividade, tanto física como verbal, dificuldades de auto-controlo, desobediência, delinquência. No que diz respeito às questões emocionais podem surgir problemas como, por exemplo, depressão, culpa, tristeza, ansiedade, baixa auto-estima e auto-conceito, sendo que quanto maior a exposição ao conflito, mais emocionalmente inseguros se sentem os filhos. Ao nível relacional podem surgir dificuldades no relacionamento com os irmãos e mesmo com os pais, sendo que estes acabam por ver o seu funcionamento parental afectado, uma vez que o conflito pode colocar os pais numa posição menos disponível para os filhos, por exemplo, tornando-os mais permissivos e inconsistentes na sua educação. Acrescente-se que, a longo prazo, este contexto negativo influencia a percepção que os filhos têm das relações românticas e do casamento. Por fim, relativamente à questão escolar, o rendimento escolar destas crianças pode ser prejudicado, bem como podem ocorrer alterações do comportamento em sala de aula, face aos pares e até mesmo aos professores. Resumindo, pode-se afirmar convictamente que o conflito parental cria um contexto familiar stressante que afecta negativamente o desenvolvimento integral e saudável dos filhos.


Para se informar sobre como se separar sem prejudicar os seus filhos, sugerimos que a leitura do seguinte manual: “Separação do casal – Guia para enfrentá-la sem prejudicar os filhos” da autoria de José Aguilar, publicado pela Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Defesa dos Direitos dos Filhos (disponível online).

Bibliografia:

Davies, P. & Cummings, E. (1994). Marital Conflict and Child Adjustment: an emotional security hypothesis. Psychological Bulletin, 116 (3), p.387-411.

Moura, O. & Matos, P. (2008). Vinculação aos pais, divorcio e conflito interparental em adolescentes. Psicologia, Vol. XII (1), p. 127-152.

Pinto, H. & Pereira, M. (2005). Separação e Divórcio: um olhar feminino. Coimbra: Quarteto.

Raposo, H. E., et al (2011). Ajustamento da criança à separação ou divórcio dos pais. Revista de Psiquiatria Clínica, 38 (1), 29-33.

Shaw, D. (1991). The Effects of Divorce on Children´s Adjustment: Review and Implications. Behavior Modification, 15(4), 456- 585.

                                

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