sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

"Humor e criatividade"


"O humor é um dos ingredientes base para construir um contexto terapêutico produtivo. (...) é importante saber sorrir, utilizar o humor e a criatividade como portas de acesso, tijolos com os quais se cria uma relação autêntica entre o terapeuta e os membros da família.
O humor e a gargalhada são instrumentos essenciais no jogo relacional, porque asseguram uma espécie de continuidade subtil, uma marca de contexto capaz de garantir a todos uma autorização para continuar a " brincar" com os problemas sem se sentirem por isso, inferiorizados ou julgados.
A ambivalência inerente ao brincar ao "como se", priva a família da tentação fácil de recorrer ao mecanismo da recíproca culpabilização, arma secreta ao serviço das tão possíveis quanto inúteis escaladas simétricas. O humor é portanto o regulador do processo terapêutico ( Andolfi, Angelo, 1987).
Se a linguagem do quotidiano e um sentido de otimismo para enfrentar as dificuldades e problemas, mesmo quando graves, forem recuperados, o rir das coisas terá produzido um primeiro efeito: o vê-los " como se fosse exterior", ainda mais quando as pessoas nos parecem " dentro até ao pescoço", tornando-se num instrumento muito potente para introduzir empatia no trabalho terapêutico. Ao mesmo tempo, se o humor consegue tocar as regras relacionais mais recônditas da família e deslocá-las de nível, produzir-se-á em sessão um aumento da tensão interpessoal e uma procura de maior autenticidade, elemento indispensável para desencadear um processo de mudança.
A gargalhada em terapia representa uma espécie de queda estridente da tensão: um momento de relaxamento, apenas aparente, de todo o sistema terapêutico, a que se concede uma pausa. Na realidade a interrupção tem o objetivo de desviar o stress do espaço interpessoal, isto é, da área das relações, para o espaço interno, mais indefeso e vulnerável, de cada indivíduo. 
É precisamente a suspensão da ação que sucede à gargalhada a produzir um vazio, um momento de silêncio extremamente produtivo que pode permitir verificações internas e conduzir cada um a colocar novas interrogações."
(Andolfi, 2013 " A criança como recurso terapêutico", Alfragide, Editorial Caminho)

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