sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fadiga do Psicoterapeuta

Muitas vezes amigos e conhecidos meus, leigos na temática das psicoterapias, perguntam-me se não levo os problemas dos meus pacientes para casa. De algum modo parecem pensar que nós, psicoterapeutas, saímos preocupados do consultório e mal podemos dormir com o peso dos problemas alheios.
Sempre respondi tranquilamente dizendo que não é exactamente assim, pois para que alguém seja terapeuta exige-se uma formação rigorosa que habilita o profissional a separar os conteúdos que são seus daqueles que pertencem aos seus pacientes.
Boa resposta, talvez para leigos...mas muito incompleta se quisermos realmente aprofundar a natureza desta questão...
Passamos horas e horas a ouvir e a sermos empáticos com as outras pessoas, enquanto descuidamos as nossas próprias famílias e a nós mesmos. Depois de um longo dia a ver pacientes, quantos de nós sentem-se realmente dispostos a lidar com as queixas quotidianas dos nossos filhos e companheiros ou, ainda, quantos de nós têm disposição para fazer desporto ou uma refeição equilibrada?
As queixas mais frequentes dos psicoterapeutas passam por sentirem dificuldades em dormir, problemas de sobrepeso e exaustão generalizada...
Transformamo-nos heróis sensíveis dos pacientes, subitamente em participantes relapsos dos nossos sistemas familiares e cuidadores negligentes dos nossos corpos...
Os terapeutas podem e devem recorrer a vários recursos para cuidarem da sua saúde pessoal, mas todos implicam uma mudança de rotina de trabalho e de vida. Medir melhor o número de pacientes atendidos, deixar espaços de tempo razoáveis para alimentação, exercício físico, etc., são alguns destes recursos que, por simples que pareçam, são tremendamente difíceis de serem implementados.
Não se trata apenas de trabalhar menos, é preciso substituir uma parte da confirmação financeira e profissional que advém de uma agenda lotada, por uma consciência crescente de que somos tão vulneráveis quanto nossos pacientes e de que é impossível advogar causas alheias se não cuidarmos de nós próprios...”


Fadiga do Psicoterapeuta – Estresse Pós-Traumático Secundário
Rosa Cukier


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