sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

INDENTIDADE/MUDANÇA





INDENTIDADE/MUDANÇA
“Nós podemos gostar de nós próprios ou não. No entanto, leitor, lamento desiludi-lo ao dizer que nem essa capacidade elementar de gostar ou não do seu corpo, das suas feições, da sua voz, dos seus tiques, da sua personalidade, depende de si. Todos temos a experiência de, às vezes, olharmos para o espelho e gostarmos daquilo que vemos, outras não. Isso depende do estado em que estamos, adornados ou não, do modo como olhamos e, sobretudo, do espelho. Aliás, suponho que, se não existissem espelhos ou seus equivalentes, dificilmente conheceríamos (e, portanto, estaríamos aptos a apreciar) o nosso aspeto físico. O problema que se põe então, é quais são esses espelhos que nos permitem olhar para nós como totalidade física e psicológica, conhecê-la e apreciá-la ou não. A minha resposta provisória é que esses espelhos (às vezes deformantes, outras embelezadores), são os olhos das pessoas significativas, a começar pelas que muito precocemente cuidaram de nós, pais ou outros. Ou seja, tudo isso depende, mais uma vez, de circunstâncias em que nós não pudemos interferir.
(…) Dentro de certos limites, organizamos simpatias, selecionamos amizades, acamaradamos em vários contextos, aproximamo-nos de outras famílias, apaixonamo-nos, arranjamos namoros, constituímos novas famílias e chegamos até a consultar psicoterapeutas. Ou seja: temos várias oportunidades para trocarmos de espelho e nos conhecermos melhor. Usá-los ou não, esse é outro problema.
(…) Cada um tem a sua circunstância, que se manifesta logo desde o nascimento. Essa circunstância é única para cada um de nós, e é isso que nos dá a nossa individualidade no seio da enorme e rica variedade humana. Essa circunstância pode ter coisas más, mas também há-de ter coisas boas. Todo o nosso problema é conhecer os seus aspetos mais positivos, é descobrir, por assim dizer, os nossos próprios talentos e pô-los a funcionar. Há pessoas que o conseguem fazer cedo e têm uma vida de sucesso. Há pessoas que tardam em descobri-los, e há quem morra sem os conhecer. Estas últimas viverão bastante infelizes. Mas se o leitor ainda não descobriu os seus talentos, comece por se lembrar da sua infância e das brincadeiras que então lhe davam prazer. Talvez seja aí que os vai encontrar."

J.L. Pio Abreu "Como tornar-se doente mental"
    

                                              Pablo Picasso “Mulher ao Espelho”

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