sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Infidelidade II




«O medo da perda e o medo do abandono fazem-nos agarrar com mais força à fidelidade. Numa cultura em que tudo é descartável, e em que a redução dos efectivos das empresas confirma até que ponto todos nós somos, de facto, substituíveis  a necessidade de nos sentirmos seguros na nossa relação principal é ainda maior. Quanto mais pequenos nos sentimos no mundo, tanto mais precisamos de brilhar aos olhos do nosso parceiro. Queremos saber que somos importantes, e que, pelo menos para uma pessoa, somo insubstituíveis. Ansiamos por nos sentirmos completos, por voar acima do cárcere da nossa solidão.
Talvez seja por isso que a nossa insistência na exclusividade sexual é absoluta. Como o amor sexual adulto reproduz momentaneamente essa forma de fusão inicial mais primitiva - a fusão dos corpos, o mamilo que enche completamente a nossa boca e nos deixa perfeitamente saciados -, a ideia de o nosso amado estar com outra pessoa é um cataclismo. Para nós, o sexo é a traição suprema.
Por isso, a monogamia é a vaca sagrada do ideal romântico, pois é o que assinala a nossa excepcionalidade: eu fui escolhido, os outros foram recusados. Quando viras as costas a outros amores, confirmas a minha unicidade; quando a tua mão ou a tua mente divagam, a minha importância é destruída  Por outro lado, se já não me sinto especial, são as minhas mãos e a minha mente que formigam de curiosidade  As pessoas desiludidas têm tendência para vaguear. Poderá outra pessoa restaurar o meu significado?»


(Esther Perel, 2006, Amor e Desejo na Relação Conjugal, p. 184)

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