segunda-feira, 23 de julho de 2012

... Em psicoterapia...


 



«Estou a atar os sapatos, contente, a assobiar, e de repente a infelicidade. Mas desta vez apanhei-te, angustia, senti-te antes de qualquer organização mental, no primeiro instante da negação. Como uma cor cinzenta que fosse uma dor e fosse o estômago. E quase simultaneamente (mas depois, desta vez não me enganas) abriu caminho em direcção ao repertório inteligível, a uma idéia explicativa: "E agora toca a viver outro dia, etc." De onde se evolui para: "Estou angustiado porque... etc."
As ideias à vela, impulsionadas pelo vento primordial que sopra a partir de baixo (ainda que de baixo seja apenas uma localização física). Basta uma mudança de vento (mas o que é que será que o muda de quadrante?), e aí estão as pequenas embarcações todas contentes com as suas velas às cores. "Afinal de contas, não há razões para nos queixarmos", uma frase desse género.»

                

                         In "O Jogo Do Mundo" (Rayuela), Julio Cortázar

3 comentários:

  1. Ok, estou a ver, e concordo que está lá... mas continua muito confuso!
    Acho que quem escreve assim, escreve apenas para si proprio...

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    1. Viva, Ondina!
      Realmente trata-se de um diálogo interno, com algum desassossego... confesso...

      Um grande abraço!

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    2. Pois... é exatamente aí!
      Obrigada pelo vosso olhar atento...
      Talvez quando acabar a "saga" do J.Bucay me dedique ao Julio :)

      Um abraço!

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