“Parabéns
a você, nesta data querida…”, enquanto cantava os parabéns numa festa de
aniversário, dei por mim a pensar na importância de estar ali, de partilhar
esta celebração com quem me rodeava e no significado que esta celebração, como
aliás tantas outras têm para nós enquanto indivíduos, família e sociedade.
Os
aniversários, os casamentos, os batizados, as comunhões, o Natal, a Páscoa,
são algumas das celebrações que vivenciamos nas nossas vidas. Destacam e
ressaltam acontecimentos positivos, promovem a união e sentimento de pertença
de quem neles se integra e como tal são rituais estruturantes e que contribuem
para o nosso desenvolvimento e bem estar.
Mas, serão
só estes os rituais a destacar nas nossas vidas? Que importância têm os
rituais?
“Os
rituais, segundo Imber-Black & Roberts (1992), são ritos simbólicos, que
auxiliam os indivíduos a fazer um trabalho de relacionamento, mudança, cura,
crença e celebração. Partindo dessa estruturação, podemos dizer que os rituais
familiares são actividades sociais simbólicas, repetitivas, altamente
valorizadas, as quais transmitem os valores duradouros, as atitudes e os
objetivos da família.
A maioria
dos pais tem agendas sobrecarregadas e pouco tempo disponível para engajar-se
em rituais com os filhos. Almoçar, jantar, tomar o café da manhã, ler uma
história ao ir para a cama, enfim, situações cotidianas, altamente ritualizadas
em épocas não muito antigas, não existem mais. Na maioria das famílias, os pais
não estão mais disponíveis no horário de refeições. Quando chegam em casa, os
filhos já foram dormir.
O que os
rituais trazem de tão importante, além do convívio?
Os rituais
são altamente simbólicos, não importa se parecem tão comuns, como escovar os
dentes. O valor do ritual está justamente na sua inserção em um contexto
simbólico, isto é, algo que tenha um significado muito mais profundo do que o
simplesmente objetivo e observável. Os rituais familiares são tão privados a
cada grupo familiar porque possuem significados diferentes, dependendo dos
contextos diversificados das pessoas que os utilizam.
Existem
vários tipos de rituais:
a) Rituais
de celebração: homenageiam situações que foram bem-sucedidas ou simplesmente expressam
amor e carinho. Eles comemoram o que é positivo e permitem uma conexão dos indivíduos
com um senso de humanidade através do tempo, favorecendo as lembranças felizes.
Rituais desse tipo são os aniversários, nascimentos, casamentos, promoções,
aquisições pessoais significativas etc.
b) Rituais
de libertação: rituais que permitem desvencilhar os indivíduos de emoções dolorosas,
favorecendo um senso de proximidade e de compartilhar. Rituais de libertação podem
ser utilizados para perdoar os outros, reconciliar diferenças, lidar com luto e
recobrar-se de eventos traumáticos.
c) Rituais
de transformação: importantes quando os indivíduos mudam para fases diferentes de
vida, auxiliando a terminar situações e iniciar novas. Rituais desse tipo estão
presentes em sociedades que celebram a passagem da adolescência para a idade
adulta.
Quanto às suas
funções dentro da família, em primeiro lugar, os rituais permitem estabelecer
um senso de estabilidade. Todas as famílias experimentam situações de crise ou
estresse, e os rituais têm a capacidade de prover as famílias com estabilidade
durante esses períodos.
Os rituais
também trazem uma identidade familiar, pois são ocasiões em que os membros da
família transmitem valores familiares e crenças, reforçam a herança familiar e reconhecem
mudanças na família, além de criar sentimentos de pertencer ao grupo.
Além
disso, permitem a socialização: os rituais familiares são experiências de
socialização
entre os
membros da família, para que as famílias possam transmitir informações culturais
e normativas, assim como valores e crenças através das gerações. Por exemplo,rituais
lingüísticos, como ensinar a criança a dizer “por favor” e “obrigado”.
Os rituais
familiares são estabilizadores da família e, embora haja pouca evidência de que
exista influência dos rituais sobre o desenvolvimento, há suficientes provas de
que as rotinas diárias e os rituais estão relacionados com o funcionamento
psicossocial.
As
famílias apresentam vários graus de ritualização e eles se modificam muito
quanto ao simbolismo, emoção e significado afetivo relacionados.
É
essencial que as famílias mantenham seus rituais através do tempo, mas não
significa que esses tenham de permanecer os mesmos. Aqueles rituais que falham
em adaptar-se às necessidades familiares perdem o sentido e tornam-se vazios.
Quando isso ocorre,os rituais perdem seu simbolismo, e os membros da família
celebram eventos com um senso de “obrigação”.
Assim, os
rituais são eventos dinâmicos, que devem responder às necessidades de
mudança da
família, para que perdurem no tempo.”
Geraldo
A. Fiamenghi Rituais familiares: alternativas para a reunião das
famílias
Elisabete Gomes
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