"Habitualmente os casais são confrontados por um conjunto de questões nesta
área, muitas vezes condicionados pelas crenças que foram
interiorizando ao longo do seu percurso de vida, mas também por um conjunto
de informação que é transmitida erroneamente através de mitos e tabus
associados a esta temática, bem como pelos significados que são
valorizados pela nossa sociedade. Existe uma influência sócio-cultural
nesta área, o que condiciona aquilo que o casal espera um do outro. Esta
situação pode acabar por afetar o casal, fazendo-o viver a sexualidade com
alguma tensão. É importante ter em conta que cada casal deve construir as
suas próprias regras neste campo: não existe o certo ou o errado desde
que os dois elementos estejam satisfeitos e confortáveis na prática sexual,
podendo esta ser divergente da de outros casais.
A Sexualidade
assume um papel essencial nas relações conjugais, sendo umas das componentes
com grande impacto no bem-estar do casal.
Considera-se
que a satisfação sexual está estritamente relacionada com a satisfação geral na
relação, sendo que os factores que condicionam a insatisfação sexual são divergentes
para ambos os sexos.
O sexo
feminino, no âmbito da sexualidade, valoriza aspetos como o
amor, afeição e carinho, para que a relação sexual seja satisfatória. Enquanto,
que para o sexo masculino, a frequência e a variedade de atividades
sexuais são habitualmente os fatores mais importantes. Estes elementos podem
provocar conflitos entre o casal por existirem necessidades diferentes para os
dois e divergentes formas de expressão das mesmas.
Assim é
necessário que sejam comunicados e partilhados pelo casal, de modo a que possam
fazer negociações, para que ambos se sintam preenchidos e satisfeitos nesta
área.
É importante ter em conta que a sexualidade no casal não é desprovida
da componente afetiva, sendo que aspetos que provocam desagrado na relação
podem provocar o desencantamento e, consequentemente, o afastamento de um dos
elementos, ficando comprometida a intimidade do casal.
A sexualidade
deve ser encarada como um elemento fundamental de partilha e intimidade,
onde se conjugam os afetos, as fantasias, as aspirações, compromisso e investimento,
sendo a junção destes fatores uma importante fonte de manutenção do
relacionamento, produzindo um cocktail de harmonia e
satisfação conjugal.
Homens e
mulheres funcionam de forma diferente, valorizando
diferentes aspectos da sexualidade, o
que não tem que ser necessariamente um obstáculo na relação. A forma
como os homens sentem e expressam amor pelas suas companheiras está
estritamente interligado ao relacionamento sexual. Durante o ato sexual ele
está mais disponível para dar e receber amor. Assim, se perante a sua
iniciativa de iniciar a relação sexual a mulher recuar, geram-se sentimentos de
rejeição, sendo este um dos grandes desafios para relação, isto é, gerir os
tempos de cada um e os significados que são atribuídos por ambos no que se
refere a essa situação. Quando a parceira vai continuamente recusando as
investidas do companheiro, sem qualquer tipo de explicação, pode surgir, devido
aos pensamentos e sentimentos não expressos, afastamento da parte do homem e
até mesmo perda de desejo em relação à mesma, pois sempre que é recusada a atividade
sexual, o homem tem que suprimir o seu desejo. Se esta situação acontecer
repetidamente, o desejo vai sendo suprimido automaticamente, gerando um grande
desgaste para o mesmo. O mesmo acontece com a mulher, quando
sente que as suas necessidades de afeto, de atenção não são respeitadas vai-se
progressivamente afastando, ficando menos receptiva ao ato sexual. Mas como
este aspeto não é partilhado com o companheiro vão-se gerando mágoas e
ressentimentos, ficando comprometido o relacionamento, mesmo nas outras áreas.
Neste caso, quando não há o compromisso de comunicar com o outro as suas
necessidades ou quando não há disponibilidade para entender aquilo que o outro
precisa, pode-se estar a criar espaço para que outros os encantem, podendo
surgir as relações extraconjugais como fonte de satisfação dos desejos sexuais
que são reprimidos ou não satisfeitos na relação actual, mesmo que possa estar
preservado o sentimento pelo outro. Estas situações podem mesmo gerar
rupturas conjugais, pois um dos elementos do casal pode sentir que as
suas necessidades não são consideradas importantes pelo outro. Para além disso,
a existência de outros problemas conjugais, ao não serem resolvidos afeta a
vida sexual do casal. Assim, é necessário existir um investimento das duas
partes para melhorar a relação sexual, não descurando as necessidades do outro,
bem como tentar perceber e resolver os outros problemas ou dificuldades que
estão a ter repercussões no bem-estar do casal.
As disfunções
sexuais podem surgir associadas à própria disfuncionalidade da relação,
originando ou reforçando um problema sexual existente. Quando surge um destes problemas é necessário procurar ajuda médica, para
perceber se existe uma causa biológica, sendo necessário o tratamento
medicamentoso, mas também analisar se a disfunção tem uma causa psicológica ou
se é provocada pelo stress, cansaço, estilo de vida, entre outros.
A Terapia de
Casal pode permitir melhorar a comunicação do casal, ultrapassando grande parte
dos bloqueios que estão associados à atividade sexual, facilitando a construção e a definição da sua sexualidade, aumentando a
satisfação e, consequentemente, potenciando uma maior aproximação do
mesmo. Para além disso, com o evoluir da relação, o desejo sexual pode ir
diminuindo, contaminado pela rotina do casal, pelo nascimento dos filhos e pelo
rol de exigências que vão surgindo na vida de cada um, sendo por isso
importante que o casal continue a investir na relação e que reconquiste a atração.
A Terapia de Casal pode facilitar este processo de
descoberta de si próprio e do outro, permitindo derrubar o muro do silêncio e
do ressentimento que se pode ir construindo entre os elementos do casal. "
Sónia Ferreira, Psicóloga Clínica e Terapeuta de Casal
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