Todos sabemos que não é fácil sermos aquele que
ouve o «não». Quando dizemos não àquilo que a criança quer, temos de estar
preparados para lidar com a reação.
A birra é um elemento característico na vida das
crianças na faixa etária dos 2 aos 5 anos. Elas podem ser acometidas de uma
raiva intensa e agirem como se estivessem mesmo em desespero, atirando-se para
o chão, com os braços e as pernas a abanar. A nossa reacção, regra geral, tende
a ser de irritação ou ansiedade, com medo que se magoem. Podemos também
sentir-nos embaraçados pelo descontrolo da criança. A forma como a birra nos
faz sentir é o que a birra pretende comunicar, acima de tudo pretende que nos
preocupemos, que nos sintamos impotentes, cruéis, seja o que for. É assim que a
criança se sente. (…) As birras são uma demonstração da perda de um sentido
coerente de identidade, de uma sensação de fragmentação.
Estes momentos podem ser assustadores, tanto de
viver como de assistir. Quando as crianças pequenas ficam perturbadas, têm
tendência a agir em vez de falar e comunicam através do seu comportamento. Se
um adulto conseguir contar até dez e depois pegar na criança e tentar fazer com
que ela se sinta mais inteira, menos fragmentada pela fúria, há boas
probabilidades de que ela se acalme. O trabalho do adulto é manter a calma e
não se deixar submergir de tal forma pelos sentimentos da criança ao ponto de
estes o dominarem e o levarem a ter também o equivalente de uma birra. As
birras não têm a ver com a razão e muitas vezes, quando assistimos a uma birra
ou somos os seus causadores, uma parte de nós que sabe como é sentirmo-nos
naquele desespero agita-se. Queremos pôr rapidamente fim à experiência e
podemos ser sugados para o conflito, em lugar de manter a distância necessária
do estado da criança de modo a podermos ajudá-la. Torna-se mais fácil ficarmos
zangados e dizermos «Pára já com este disparate» do que perceber que a criança
está perturbada e que precisa de ser contida e acalmada.
Quando as crianças são pequenas, ainda conseguimos
contê-las fisicamente, segurá-las até a onda passar e ajudá-las a recuperar.
Algumas crianças podem precisar desse contato físico, outras podem sentir-se
contidas pela sua voz, pela sua paciência ou por as deixar descarregar a seu
tempo, limitando-se a estar presente.
Adaptado de Um
bom pai diz não, Asha Philips
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