"O Mito da meia laranja" adaptado
de Juan Batista Pino
Cada um de nós é uma meia laranja? Ou
uma laranja completa? Porque nos unimos em casal?
O “mito da meia laranja” leva-nos a crer que a solução dos nossos problemas e o nosso bem-estar estão fora de nós mesmos, numa outra pessoa que nos tornará completos. Consideramos ser a metade de algo e procuramos alguém que encerre esse círculo e nos leve à “felicidade”.
Cabe-nos perguntar se dois seres incompletos formam algo completo ou se, pelo contrário, aumentam esta condição de “não completos”...
Um dos problemas inerentes ao consideramos o outro a minha “meia laranja” é considerarmos a nós mesmos de igual forma, a metade de algo. Assim, colocamos o nosso bem-estar nas mãos do outro, no sentido em que nos tornamos dependentes do outro para estar bem.
Alguns de nós unimo-nos para não
estar sós o que nos leva, mais a procurar solucionar os nossos
próprios problemas, que propriamente em estar com a outra
pessoa.
O “estar só” é uma faceta da
condição humana que deve ser conquistada e aceite. Devemos
despojá-la do todo o cariz dramático e aprender a lidar
razoavelmente bem com ela. Quando aprendemos a estar sós, explorando
a nossa individualidade, aceitando as nossas dificuldades e assumindo
que o nosso bem-estar depende, principalmente, de nós mesmos, então
seremos mais autónomos e podemos unir-nos livremente a outros sem
depender deles.
É muito mais saudável considerar-se a
si mesmo como uma “laranja completa” com todas as suas possíveis
imperfeições e fragilidades, mas algo inteiro e não a meio. Todos
somos seres íntegros e acabados, individuais e prontos para evoluir.
A partir desta posição de autonomia e responsabilidade comigo
mesmo, podemos e devemos, procurar a outra “laranja completa” com
quem queremos partilhar esta visão da relação e da vida.
Verdadeiramente, os dois membros de um
casal unem-se, no sentido de se completar e desenvolver cada um a si
mesmo e por si mesmo e utilizam entre outras coisas e de maneira
principal, a união e a relação com o seu cônjuge. Mas não se
completam somando-se um ao outro. Não se trata de se fundir com o
outro, mas sim de caminhar em paralelo, lado a lado.
Nos alicerces de
um casal, há uma verdadeira amizade na qual cada um não se propõe a
mudar o outro para ajustá-lo aos seus interesses, mas aceita-o tal
como é e como muito, propõe-se mudar-se a si mesmo no
sentido de querer ser melhor, para assim dar coisas melhores ao casal.
A visão romântica não é suficiente
para que uma relação seja saudável e duradoira. Trata-se de ter
uma amizade genuína, inclusivamente ser amigos antes de amantes,
capacidade de apoiar-se nos projectos de cada um, um verdadeiro
gostar mais além do “do físico” e capacidade de atravessar
momentos difíceis escutando-se e partilhando.
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