Após
o São Valentim onde passamos semanas a falar do amor, faz sentido também falar do
desamor, do acabar das relações, e de como fazer, para tirar partido do
passado. Adaptamos o texto da Dra. Fina Sanz onde fala sobre como “reciclar “
estas experiências. Leiam com atenção.
Quiçá
não nos apercebemos, mas no decorrer da nossa vida estamos dizendo adeus
continuadamente. Adeus à nossa infância quando entramos na puberdade, à nossa adolescência
quando entramos na juventude, à juventude dos nossos corpos quando vamos
envelhecendo, aos nossos filhos quando crescem, quando criam os seus espaços de
independência ou quando deixam a casa; adeus aos nossos pais e à relação que
tivemos com eles na infância, ao trabalho que tivemos, à casa onde vivemos, a
uma amiga que se muda de localidade, a um amigo que morre, a um amor que deixa
de o ser…
Cada
período da nossa vida deixa para trás coisas que são irrecuperáveis -o que foi,
foi- porque é passado. O presente é outra coisa, integra elementos do passado,
é certo, mas constitui uma situação aberta a outras possibilidades e contém o
gérmen do futuro, que também não existe.
Em
cada momento presente estamos dizendo adeus a alguma coisa, e abrindo-nos a
novas possibilidades vitais. Passado e futuro estão integrados no presente, mas
o único que de verdade existe é o presente. O passado já não existe e
o futuro não sabemos como será.
Contudo,
a realidade é que frequentemente vivemos mais no passado ou no futuro, do que
no presente. Dedicamos grande parte da nossa vida a queixarmo-nos do quanto
fomos infelizes no nosso passado (por culpa da nossa mãe, do nosso pai ou
parceiro/a...) e com isso justificamos a nossa infelicidade atual sem fazer
nenhuma coisa para mudá-la e ficamos na queixa. É como se continuássemos lutando
por um futuro, situados no passado com a esperança de que este mude.
Viver
no presente implica ir dizendo adeus ao passado, fechar episódios, etapas da
nossa vida. Não para esquecer, mas sim para integrá-las como experiência vital
com todo o bom e o mau que tiveram e para poder transformá-las numa experiência
de aprendizagem para o presente. “ pode-se perdoar mas não esquecer” , dizia a terapeuta
Monique Fradot. Acho que o que “esquecemos” realmente não fica eliminado, acho
que fica guardado ao nível do inconsciente, e atua sem que nos apercebamos e magoa-nos.
Acredito que, as coisas que nos lembramos -mesmo com dor- e que podemos perdoar
após o tempo de luto necesssário, são por nós recicladas emocionalmente e
reconvertidas numa experiência positiva.
“Para
esquecer há que lembrar-se” como diria A. Mastretta.
Por
isso a pergunta que devemos fazer-nos é: onde estamos a viver? No passado? No
futuro? Ou no presente? Reciclar é uma arte!
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