“Ignorar períodos de crise ou fazer o mínimo possível para
atravessar a separação ou o divórcio não dá resultado. “Passei demasiado tempo da minha vida a investir nesse casamento e não
estou disposta a investir agora neste divórcio!” disse-me um dia um homem.
Mal sabia ele a surpresa que o aguardava. Independentemente do que se investe
numa relação intíma, pôr-lhe fim exige uma quantidade imensa de tempo, energia
e, muitas vezes, dinheiro. Podemos entregar tudo a um advogado e tentar ignorar
o processo. Mas os resultados não serão necessariamente positivos e o processo
poderá ser desnecessariamente penoso.
Ao fim
de três anos, este pai viu-se confrontado com uma série de coisas que ele
pensava que desapareciam naturalmente. Não desapareceram. Ele continuava
zangado com a sua antiga companheira, a fraca adaptação dos filhos ao divórcio
era agora uma grande preocupação e o seu segundo casamento atravessava uma
crise devida aos problemas com a sua ex-mulher e com os filhos. À semelhança de
muita gente que não presta a devida atenção à maneira como tratam do processo
do divórcio, a sua vida tinha-se tornado muito mais complicada do que
anteriormente. Continua ligado, de uma forma ou de outra, à sua ex-mulher e a
gastar tanta ou mais energia que anteriormente no processo litigioso. Os filhos
precisam dele enquanto pai. Eles precisam que ele encontre uma forma mais
construtiva de se relacionar com a mãe. A mulher actual precisa que ele resolva
todos estes problemas para poderem então tocar para a frente a sua vida em
conjunto. Este homem obteve o divórcio legal, mas por causa dos sentimentos
negativos que acalentou durante os últimos três anos, estava agora muito mais
longe de pôr um ponto final no seu primeiro casamento do que há três anos
atrás.
Existem
formas mais construtivas para ultrapassar a experiência de pôr termo a uma
relação intíma. (…)
Dois
lares de facto, sem conflitos, não são algo que se possa construir de um dia
para o outro. Requer trabalho, suor e lágrimas. Mas o esforço vale a pena.
Aquilo
que aprendemos até aqui sugere-nos uma nova “constituição” familiar. Se ainda
não começou a tirar notas, eis aqui um bom sítio por onde começar:
- Toda a criança tem o direito de ter dois lares onde seja acarinhada e dada a oportunidade de se desenvolver harmoniosamente.
- Toda a criança tem o direito de um relacionamento sério e atento com ambos os pais.
- Todo o pai ou mãe e filhos têm o direito de se designarem família, independentemente da forma como o tempo com os filhos é dividido.
- Todo o pai ou mãe têm a responsabilidade e o direito de contribuir para a educação dos seus filhos.
- Toda a criança tem o direito a ter pais competentes e a manter-se afastada dos problemas e discussões que os pais possam ter.
- Todo o pai ou mãe têm o direito à sua privacidade e território e a educar os filhos sem a interferência despropositada do outro.”
Retirado
do livro Casa da Mãe, Casa do Pai – um
guia para pais separados, divorciados ou que voltaram a casar, Isolina
Ricci, 2004
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