Fadiga
do Psicoterapeuta
“Muitas
vezes amigos e conhecidos meus, leigos na temática das
psicoterapias, perguntam-me se não levo os problemas dos meus
pacientes para casa. De algum modo parecem pensar que nós,
psicoterapeutas, saímos preocupados do consultório e mal podemos
dormir com o peso dos problemas alheios.
Sempre
respondi tranquilamente dizendo que não é exactamente assim, pois
para que alguém seja terapeuta exige-se uma formação rigorosa que
habilita o profissional a separar os conteúdos que são seus
daqueles que pertencem aos seus pacientes.
Boa
resposta, talvez para leigos...mas muito incompleta se quisermos
realmente aprofundar a natureza desta questão...
Passamos
horas e horas a ouvir e a sermos empáticos com as outras pessoas,
enquanto descuidamos as nossas próprias famílias e a nós mesmos.
Depois de um longo dia a ver pacientes, quantos de nós sentem-se
realmente dispostos a lidar com as queixas quotidianas dos nossos
filhos e companheiros ou, ainda, quantos de nós têm disposição
para fazer desporto ou uma refeição equilibrada?
As
queixas mais frequentes dos psicoterapeutas passam por sentirem
dificuldades em dormir, problemas de sobrepeso e exaustão
generalizada...
Transformamo-nos heróis sensíveis dos pacientes, subitamente em participantes
relapsos dos nossos sistemas familiares e cuidadores negligentes dos
nossos corpos...
Os
terapeutas podem e devem recorrer a vários recursos para cuidarem da
sua saúde pessoal, mas todos implicam uma mudança de rotina de
trabalho e de vida. Medir melhor o número de pacientes atendidos,
deixar espaços de tempo razoáveis para alimentação, exercício
físico, etc., são alguns destes recursos que, por simples que
pareçam, são tremendamente difíceis de serem implementados.
Não
se trata apenas de trabalhar menos, é preciso substituir uma parte
da confirmação financeira e profissional que advém de uma agenda
lotada, por uma consciência crescente de que somos tão vulneráveis
quanto nossos pacientes e de que é impossível advogar causas
alheias se não cuidarmos de nós próprios...”
Fadiga
do Psicoterapeuta – Estresse Pós-Traumático Secundário
Rosa
Cukier
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