Há
algum tempo atrás li algures uma lenda que rezava algo mais ou menos
assim:
Havia
um rei muito sábio que não se poupava a esforços para ensinar bons
hábitos ao seu povo e para isso fazia com frequência coisas
aparentemente estranhas.
-Nada
de bom pode vir para uma nação, cujo o povo reclama e espera que os
outros resolvam os seus problemas. As coisas boas acontecem a quem
lida com os seus problemas – dizia ele.
Certa
noite enquanto todos dormiam, ele colocou uma pedra enorme na estrada
que passava pelo palácio. Depois escondeu-se atrás de uma cerca
para ver o que acontecia.
Pela
manhã, veio um agricultor na sua carroça carregada com sementes
para entregar no palácio:
-
Onde já se viu isto?! - disse contornando a pedra – Estes
preguiçosos não retiraram esta pedra! - e prosseguiu o caminho,
reclamando da inutilidade dos outros, sem contudo, ele próprio tocar
na pedra.
De
seguida, passou um soldado que cantando pela estrada, tropeçou na
pedra e caiu.
-
Bolas! - vociferou enquanto pontapeava a pedra e atirava terra para o
ar, irado pela irresponsabilidade e insensatez de quem não tirava
dali a pedra.
Todos
os que por ali passavam reclamavam indignados pela presença da pedra
no caminho.
Ao
cair da noite, a filha do moleiro, cansada da sua jornada de
trabalho, percorria a estrada do palácio. Ao ver a pedra estacou e
disse:
-
Está a anoitecer, podia ter caído aqui! E se a pedra amanhã ainda
aqui estiver ainda posso cair ou pode alguém também cair e
magoar-se. Vou tirar esta pedra daqui!
Tentou
arrastar a pedra, mas era tão pesada...Então empurrou, empurrou e
empurrou e ainda que aos bocadinhos de cada vez e levando bastante
tempo conseguiu dali retirar a pedra. Eis que então, no lugar onde a
pedra estava descobriu para sua surpresa, uma caixa. Levantou a tampa
e leu: Esta caixa
pertence a quem retirar a pedra
e olhando para o seu interior viu que se encontrava repleta de ouro.
Quantas
vezes nos deparamos com pedras no nosso caminho e quantas vezes as
evitamos, contornamos, reclamamos por existirem, por alguém as ter
lá posto e por nada acontecer para que deixem de lá estar. Contudo,
esquecemos-nos ou não queremos ver que temos também
responsabilidade na sua permanência no nosso caminho. Muitas vezes
o medo de retirarmos as pedras do nosso caminho mantem-nos
prisioneiros de situações que não nos satisfazem, ao fim ao cabo,
não sabemos o que está para lá da pedra, não sabemos o que vai
ficar se a retirarmos e mantemo-nos então "confortavelmente"
instalados no desconforto, na incerteza, na dor, no
sofrimento...Outras vezes, sentimo-nos incapazes e fracos para as
removermos sozinhos ou até achamos que se elas ali estão, nada mais
há a fazer do que parar de caminhar.
A
terapia constitui-se como forte aliado para olharmos para as pedras
que nos incomodam e nos dar uma nova visão tanto delas, como do
desconhecido que está para além e no lugar delas. A terapia ajuda a
encontramos dentro de nós " a filha do moleiro".
Elisabete
Gomes
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